Amigos do Fingidor

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Lábios que beijei 40


Zemaria Pinto
Nazaré


A magra palidez de Nazaré incomodava.  Um amigo com laivos de poeta dizia que ela era diáfana. Morava em um quartinho onde mal conseguíamos nos movimentar, tão pequeno e atulhado. Pouco mais velha que eu, cuidava de mim e me dava presentes. Retribuía amando-a. Mas meu amor era apenas físico. Chegava a contar quantas vezes ela atingira o orgasmo, talvez para minimizar a culpa latente. Não demorou muito. Mas quando, tempos depois, soube da morte de Nazaré, com pouco mais de 20 anos, tomou-me um sentimento de autodesprezo, que ainda hoje me perturba.