Amigos do Fingidor

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Lábios que beijei 41


Zemaria Pinto
Conceição


Dona de uma beleza, digamos, pouco convencional – branca, sardenta, lábios grossos, altura acima da média, as carnes fartas e rijas –, Conceição era o sonho de consumo dos moleques. Mas não me comovia. Sua conversa era boba, como haveria de ser boba a conversa de uma menina de 14 anos em plena Segunda Guerra, que a nós todos parecia tão distante. Aceitava os amassos, os toques, os carinhos mais ousados – e de repente começava a falar em filhos, casa, casamento, essas coisas. Não passei dos amassos e toques delicados. Ao afastar-me, entretanto, Conceição passou a me seguir, me vigiar e a insinuar aos amigos em comum que teria havido algo a mais entre nós, tentando forçar um comprometimento. Não lembro mais como tudo terminou: é como uma luz intensa que vai esmaecendo rapidamente até a escuridão total – de onde eu espero surgir Conceição, nua como nunca a vi, resplendente, bela e tola.