Amigos do Fingidor

segunda-feira, 9 de março de 2015

Lira da madrugada - lançamento




Depois de 15 anos, o que começou como um projeto de união entre poesia e música materializou-se no CD-livro Lira da madrugada, produção conduzida pelo artista e compositor Mauri Mrq, com a colaboração do escritor Zemaria Pinto e mais um time de especialistas, como o maestro Joca Costa e o designer Rômulo Nascimento, além dos músicos envolvidos no projeto e um trabalho gráfico de qualidade superior. Não foi à toa, portanto, que o dia escolhido para o lançamento de Lira da madrugada foi 14 de março, quando se comemora o Dia Nacional da Poesia, marcado pelo 168° aniversário de nascimento do poeta Castro Alves, o cantor da liberdade.
Lira da madrugada é um objeto contendo três produtos: um CD, com 16 canções criadas a partir do trabalho de 15 poetas, todos eles ligados de alguma maneira ao Clube da Madrugada, entidade multicultural criada em 1954; o segundo produto é um livro com a história do projeto e a trajetória de Mauri Mrq, além das cifras das músicas que estão no CD; por fim, um segundo livro, contendo uma análise da formação histórica do Clube da Madrugada, mais a reprodução integral, pela primeira vez em livro, do “Manifesto Madrugada”, de 1955, e uma análise didática, mas sem firulas, dos poemas musicados. O projeto gráfico de Rômulo Nascimento junta os 3 produtos num só objeto.
A escolha dos poemas foi do próprio Mauri Mrq, para quem “cada poema já tem sua música própria, imaginada pelo poeta; cabe ao compositor descobri-la”. Thiago de Mello, que não participou da fundação do Clube, pois já se radicara no Rio de Janeiro, é o mais velho dos poetas enfocados. O mais jovem é Max Carphentier, da terceira geração do Clube, que começa a publicar na década de 1970. Entre eles estão os já falecidos Anísio Mello, Luiz Bacellar, Antísthenes Pinto, Farias de Carvalho, Alencar e Silva, L. Ruas, Alcides Werk e Ernesto Penafort. Dos remanescentes do Clube, além dos dois primeiros citados, estão Moacir Andrade, Almir Diniz, Jorge Tufic, Elson Farias e Astrid Cabral.
Na análise histórica da fundação do Clube da Madrugada, Zemaria Pinto toca num ponto polêmico: ele afirma, com todas as letras, que a motivação da fundação do Clube foi política e não estética. “O Clube da Madrugada foi criado para demonstrar a revolta dos jovens amazonenses com o marasmo que dominava a política amazonense. Tanto que pessoas que não tinham nenhuma atividade artística tiveram papel fundamental na criação e no desenvolvimento do Clube”, diz Zemaria, citando economistas, como os professores Saul Benchimol, Francisco Batista e Teodoro Botinelly, o psicólogo João Bosco Araújo, o jornalista Fernando Collyer, entre outros. Com o tempo, artistas plásticos e escritores foram dominando o Clube, dando a impressão de que o Clube existia em função de suas atividades.
Essa polêmica fica mais fácil de ser compreendida com a leitura do “Manifesto Madrugada”, que fora publicado no único número da Revista Madrugada, em 1955, comemorando um ano da fundação do Clube, que assim começa: “No momento em que o Brasil sofre uma crise total em todas as suas forças intelectivas, morais, educacionais, econômicas e sociais, a mocidade consciente do Amazonas une-se para defender esta herança social inesgotável que herdamos de nossos antepassados”. E segue, analisando a situação de cinco segmentos do conhecimento humano: literatura, artes plásticas, sociologia, economia e filosofia – de um modo geral, concluindo, que esses segmentos eram muito pobres ou simplesmente não existiam no Amazonas.
Um outro ponto polêmico do trabalho de Zemaria Pinto é a afirmativa de que o Clube da Madrugada não é o Modernismo no Amazonas, como se acreditou durante muito tempo, e ainda hoje se repete. Para Zemaria, o Modernismo é uma referência ética, sim, mas não estética, uma vez que, esteticamente, os escritores do Clube ligavam-se à chamada Geração de 45, antagônica aos modernistas, da qual fazia parte, inclusive, o poeta Thiago de Mello. “Seria simplório, diz Zemaria, emular estilos de 30 anos antes, já ultrapassados. O Clube, ao contrário, estava em perfeita sintonia com o que se fazia em arte no Brasil”.
Feita a análise histórica, Zemaria Pinto esmiúça os belos poemas que Mauri Mrq escolheu musicar. E nesse ponto não cabem polêmicas – o professor limita-se a esclarecer ao leitor as metáforas e outras figuras de linguagem dos poemas, tornando-os de fácil leitura e agradável audição.
Lançado poucos meses depois da cidade comemorar, no último dia 22 de novembro, os 60 anos da fundação daquele que foi o movimento cultural mais importante de sua história, Lira da madrugada vem reafirmar a importância do Clube da Madrugada, um marco fundador e um divisor de águas na cultura amazonense.

Os autores
Mauri Mrq – amazonense de Manaus, iniciou a carreira artística aos 19 anos, desenvolvendo ao longo do tempo pesquisa em torno da música instrumental brasileira, fazendo a direção musical de vários espetáculos de diversos  grupos de dança e teatro, entre eles o Dança Viva, Grupo Origem e Cia. Vitória Régia, fundando, posteriormente, o Núcleo de Teatro Jiquitaia, onde continuou a função de Direção Musical e Produção de espetáculos, dentre eles das peças A maldição de Acauã, de Darcy Figueiredo, As filhas da terra, de sua própria autoria, e a Derrota do mito,  de Tenório Telles, com Direção de Theo Correa. Nos últimos 18 anos, tem se dedicado a musicalizar e interpretar poemas de autores amazônicos.
Zemaria Pinto – aos 58 anos, mestre em Estudos Literários e especialista em Literatura Brasileira, Zemaria Pinto tem 18 livros publicados em gêneros diversos: poesia, literatura infantil e juvenil, teatro e ensaios. Tem uma dezena de livros inéditos, inclusive três de contos, gênero ao qual tem se dedicado nos últimos anos. É dramaturgo, com seis peças encenadas e outras tantas inéditas. Desde 2004, é membro da Academia Amazonense de Letras, onde atualmente ocupa a função de diretor de Eventos, promovendo palestras e debates.

Serviço
. Lançamento: CD-livro Lira da madrugada, de Mauri Mrq e Zemaria Pinto;
. Local/hora: Academia Amazonense de Letras – Rua Ramos Ferreira, 1009 (esquina com Tapajós);
. Data/hora: dia 14 de março, às 10h;
. Preço de lançamento: R$ 40,00 (nas livrarias, o livro será vendido por R$ 50,00);

Mauri Mrq, em apresentação recente.