Amigos do Fingidor

terça-feira, 17 de março de 2015

O que há no cardápio?



Pedro Lucas Lindoso

Um renomado “chef” já disse que é muito delicado e complicado dar nomes aos pratos, quando se monta um cardápio. Há um restaurante na cidade, inspirado na culinária italiana, que fez homenagens aos papas dando nomes de pontífices a alguns pratos do cardápio. Pena que o papa mais simpático do século 20, o Papa João XXIII, que deu uma forte sacudida em dogmas ultrapassados da Igreja, ficou fora do menu.
Outros restaurantes mais ousados apresentam cardápio que estimulam a sensualidade. Uma doceira aqui em Manaus vende o “orgasmo” e o “beijo na boca”. Há inda as diversas comidas com fama de afrodisíacas. Servem como temas de cardápios mundo afora.
A última vez que fui a Belém experimentei o Frango a carimbo. Estava gostoso. Ainda bem que não veio dançando carimbó, pois poderia ser atropelado. Explico. No dia seguinte, tive a oportunidade de comer frango atropelado. Bem, comer frango a carimbó na terra do carimbó faz sentido, mas frango atropelado? A Explicação que me deram foi que as faixas deixadas pela grelha lembram marcas de pneu, o que inspirou o nome de Frango Atropelado. Antes assim.
Aqui em Manaus é comum as donas de casa trocarem receita de “galinha escandalosa”. Tal especialidade já foi causa de um sério entrevero entre uma senhora do sul e a empregada amazonense. No final não se sabia quem era mais escandalosa; a patroa, a empregada ou a galinha.
Em Brasília, na casa de um parlamentar amazonense, havia pirarucu de casaca e caldeirada de tambaqui. Uma jornalista amiga, que detesta farinha, recusou o pirarucu de casaca, dizendo preferir o peixe cozido, que para ela estava em traje esporte fino.
Muitos amazonenses gostam de comer um bicho de casco. As tartarugadas são tão gostosas quanto proibidas, se a origem das cascudas não for autorizada pelo IBAMA. Para ludibriar os fiscais e a polícia ambiental, muitos donos de restaurante em Manaus resolvem disfarçar o menu, chamando os pratos a base de tartaruga de “bodó”. Faz sentido. O acari, ou acari-bodó, é um peixe cascudo, designação comum aos peixes siluriformes da família Loricariidae. Só que o bodó é vítima de muito preconceito, apesar de ser bastante apreciado na culinária amazônica.
Minha querida tia Idalina sempre conta a história de que, certa feita, num restaurante em Paris, havia um prato “à votre plaisir”. Em francês a expressão significa “a sua escolha’”. Alguém perguntava insistentemente como era esse prato. E o maitre respondia, também, insistentemente, “a votre plaisir”, o tempo todo.
Outra história engraçada de tia Idalina. A empregada nova e inexperiente pergunta a titia o que fazer para o almoço. E ela displicentemente pede que a moça prepare “um bifinho”. Na hora de servir, havia literalmente, um único e singelo bifinho para os quatro comensais do dia.

O velho Chacrinha, de saudosa memória, dizia que “quem não se comunica se trumbica”. Daí ser mesmo muito importante dar nomes atrativos aos cardápios, para o sucesso do restaurante. Como é importante se comunicar com a empregada. Para se comer galinha escandalosa ou um bifinho, sem maiores contratempos, o importante é não atropelar a comunicação.