Amigos do Fingidor

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Estrogonofe, não!



Pedro Lucas Lindoso

O mês de agosto nos traz muitas saudades de meu inesquecível pai, JOSÉ LINDOSO. Não só pelo dia dos pais e pelo dia do advogado, comemorado em 11 de agosto, mas principalmente pelo dia 21, quando faria 94 anos.
JOSÉ LINDOSO, advogado e professor, foi secretário de educação, deputado federal, senador e governador do Amazonas. Todavia, o mais importante para ele foi ser marido de Amine Daou Lindoso, filho de vovó Zezé e pai de seus sete filhos. Amigo e companheiro dos filhos e idolatrado pelas filhas, surpreendia nossos professores em Brasília ao comparecer às reuniões de pais e mestres. Afinal era senador, líder do governo no Congresso, membro da mesa do Senado.
Antes de governar o Amazonas foi vice-presidente do Congresso Nacional. Mas sempre teve tempo para os filhos. Prezava sua família. Gostava de livros, de estudar, de conversar, dos amigos e principalmente do diálogo com os filhos.
Certo dia, tia Vitória, sua irmã, chegou a casa e perguntou: “Cadê o Zeca?” Achei Zeca muito chinfrim e comecei a chamá-lo de Zecão. Pegou. Até os netos o chamariam de vovô Zecão.
JOSÉ LINDOSO era um homem simples, despojado de vaidades. Gostava de política, no bom sentido. No sentido original da palavra “polis+ética” = política. Coisa rara nos dias de hoje. Em jantares entre políticos, em nossa casa, lembrava aos convivas que o cerimonial que conhecia era o do “Rio Madeira”. O protocolo era o aprendido em Manicoré.
Gostava de ir às livrarias, aos sábados pela manhã. No final da vida voltou a exercer o magistério no Departamento de Direito da UnB. Caminhava diariamente pelas arborizadas quadras de Brasília. Nunca precisou de seguranças. Como bom amazonense, apreciava nossos peixes e a culinária regional. Comia normalmente de tudo. Só não gostava de estrogonofe.

No final dos anos setenta, havia uma propaganda de creme de leite na televisão. A esposa preparava um estrogonofe com o tal creme de leite, quando o marido telefonava informando que levaria um colega para o almoço. E virava-se para o amigo e dizia: Arnaldo, vais comer um estrogonofe! Ao ver a tal propaganda, invariavelmente dizia: Coitado do Arnaldo! Vai comer estrogonofe! A saudade de meu pai é imensa. Se houver festa no céu e servirem a tal iguaria, com certeza vai dizer: “Estrogonofe, não. Obrigado”.