João Bosco Botelho
Com a consolidação do sedentarismo, importantes
modificações se processaram nos grupos sociais da Mesopotâmia, Índia e Egito,
que absorveram a experiência acumulada pelos caçadores-coletores. Nessa fase, iniciou-se
a modificação da economia de subsistência para a divisão do trabalho, o
aparecimento do excedente de produção e as trocas comerciais.
Na urbanização, nas margens dos grandes rios
Indo, Nilo, Tigre e Eufrates, as sociedades mostravam-se hierarquizadas. A
propriedade privada fortalecida, também possibilitando o processo de
assentamento duradouro, evoluindo para as primeiras aldeias. Esse conjunto
complexo estratificado é encontrado com datação assegurada em torno de seis mil
anos.
Os aldeamentos cederam às cidades, cujas
edificações construídas com material permanente, argamassa e pedra tratada, podem
ser compreendidas como produto da transformação e fortalecimento dos grupos
humanos sedentários.
Os limites urbanos expandidos
por meio de guerras contínuas trazendo saques, escravos e novos territórios,
fortaleciam a propriedade privada e a escravidão. É razoável pressupor a
participação dos médicos, principalmente, no manuseio das feridas traumáticas e
amputações dos membros dilacerados.
Incontáveis mudanças sociopolíticas
acompanharam o processo do sedentarismo. Entre as mais significativas que
contribuíram para as trocas do excedente da produção e fortalecer a hierarquização
social: metais fundidos, uso do cobre, mecanização da agricultura com os arados
primitivos, e o barco a vela.
Os elementos
sagrados continuaram acompanhando o homem na nova trajetória de conquistas. O
espaço foi deslocado em direção às terras férteis próximas aos rios e lagos. O
lago de Stellmoor, perto de Hamburgo, na Alemanha Ocidental, foi um marco desse
período. Os estudos arqueológicos encontraram muitos objetos, aparentemente
sagrados, com datação de 8.000 anos. Um chamou a atenção: a estaca de pinho com
um crânio de rena na porção mais alta. Em outra área de pesquisa arqueológica
neolítica, próxima da anterior, foi resgatado um tronco de salgueiro com três
metros de comprimento, evidenciando a escultura de uma cabeça humana.
O
simbolismo expresso nos totens pode estar configurado na convivência de dois momentos
distintos do universo mítico da pré-história: a divinização do bicho e a do
próprio homem. Parece lógico pensar não ser difícil a quem já tornou sagrado o
circundante, tomar para si a sagração.
As
práticas de curas sofreram influência da terra cultivada: o uso dos vegetais
com propriedades medicinais. Desse modo as relações míticas do homem com o
animal, predominantes na pré‑história, foram modificadas com a agricultura
cultivada. A ordem religiosa anterior dispersa no ritmo dos caçadores-coletores
também se reconstruiu com os templos.
O osso
e o sangue pré-históricos foram deslocados pela terra e pelo esperma. Ao mesmo
tempo, ocorreu a ascensão da mulher no novo espaço social, porque passou a ser
reconhecida, tal como a mãe-terra reproduzia o alimento indispensável à vida,
como a reprodutora do homem no seu próprio corpo. Essa mudança está nas artes
que assumiu aspecto naturalista, contrário da precedente, esquemática e
geométrica. O simbolismo sexual se tornou evidente nos instrumentos para arar a
terra em forma de falo.
As práticas
médicas amalgamaram-se ao urbanismo e os médicos socialmente reconhecidos
iniciaram o processo de reprodução ordenado dos saberes: as primeiras escolas
de medicina.