Amigos do Fingidor

terça-feira, 7 de junho de 2016

Feliz foi Adão...



Pedro Lucas Lindoso

Certo dia chuvoso do mês de abril encontro-me com meu amigo Dr. Chaguinhas, no corredor do fórum. Alguém comenta que 28 de abril é dia da sogra. Chaguinhas lamenta-se de sua sogra. Diz que faz ingerências terríveis em sua casa. Deseduca seus filhos. Não se dá bem com sua mãe. É um relacionamento complicado. Já de minha parte, nada a reclamar. Minha sogra é gentil. Jamais interferiu em nossa vida. Principalmente agora que moramos em cidades distintas.
Chaguinhas então se lembrou de um cliente, um próspero caminhoneiro, hoje dono de uma pequena transportadora.  O rapaz também tinha sérios problemas com a sogra. Procurou Dr. Chaguinhas para uma inusitada consulta e aconselhamento jurídico.
– Foi no início do ano passado, me disse Chaguinhas. O sujeito marcou hora com minha secretária. Era um assunto ligado ao direito de Família.
Pensei que o cliente queria se divorciar. Mas que nada. Ele queria uma ordem judicial para impedir que sua sogra, vamos chamá-la de dona Olga, a entrar em seu domicílio. Dizia-me que as visitas da mãe de sua esposa poderiam acarretar a dissolução de sua vida conjugal ou mesmo um possível crime.
É fato que algumas sogras se sentem no direito de visitar a casa da filha sem perceber que podem estar invadindo a privacidade de marido e mulher.
Chaguinhas aconselhou ao cliente que era preciso impor limites. Para tanto é necessário contar com a conivência, parceria e colaboração da esposa.
O cliente caminhoneiro argumentou que dona Olga aparece em sua casa sem aviso prévio. Opina em tudo na vida do casal. Como caminhoneiro, transporta mercadorias de Manaus a Boa Vista e vice-versa. Aproveita suas ausências em viagens de trabalho para manter com a filha uma conexão paralela de informações, com ingerências na administração de sua casa, excluindo-o de fatos importantes de seus filhos e de sua família.
Finalmente, Chaguinhas disse que não poderia ajudá-lo. Que procurasse um psicólogo. Ele e a esposa.
Quanto à proibição de sua sogra em visitas, Dr. Chaguinhas disse que aquilo era legalmente impossível. Ela é avó. Os avós tem todo o direito de visitar os netos.
Ao se despedir do cliente caminhoneiro, Chaguinhas notou o adesivo colado no automóvel: 
– Feliz foi Adão que não teve sogra nem caminhão.