Pedro Lucas Lindoso
Certo dia chuvoso do mês de
abril encontro-me com meu amigo Dr. Chaguinhas, no corredor do fórum. Alguém
comenta que 28 de abril é dia da sogra. Chaguinhas lamenta-se de sua sogra. Diz
que faz ingerências terríveis em sua casa. Deseduca seus filhos. Não se dá bem
com sua mãe. É um relacionamento complicado. Já de minha parte, nada a
reclamar. Minha sogra é gentil. Jamais interferiu em nossa vida. Principalmente
agora que moramos em cidades distintas.
Chaguinhas então se lembrou de
um cliente, um próspero caminhoneiro, hoje dono de uma pequena transportadora. O rapaz também tinha sérios problemas com a
sogra. Procurou Dr. Chaguinhas para uma inusitada consulta e aconselhamento
jurídico.
– Foi no início do ano
passado, me disse Chaguinhas. O sujeito marcou hora com minha secretária. Era
um assunto ligado ao direito de Família.
Pensei que o cliente queria se
divorciar. Mas que nada. Ele queria uma ordem judicial para impedir que sua
sogra, vamos chamá-la de dona Olga, a entrar em seu domicílio. Dizia-me que as
visitas da mãe de sua esposa poderiam acarretar a dissolução de sua vida
conjugal ou mesmo um possível crime.
É fato que algumas sogras
se sentem no direito de visitar a casa da filha sem perceber que podem estar
invadindo a privacidade de marido e mulher.
Chaguinhas aconselhou ao
cliente que era preciso impor limites. Para tanto é necessário contar com a
conivência, parceria e colaboração da esposa.
O cliente caminhoneiro
argumentou que dona Olga aparece em sua casa sem aviso prévio. Opina em tudo na
vida do casal. Como caminhoneiro, transporta mercadorias de Manaus a Boa Vista
e vice-versa. Aproveita suas ausências em viagens de trabalho para manter com a
filha uma conexão paralela de informações, com ingerências na administração de
sua casa, excluindo-o de fatos importantes de seus filhos e de sua família.
Finalmente, Chaguinhas disse
que não poderia ajudá-lo. Que procurasse um psicólogo. Ele e a esposa.
Quanto à proibição de sua
sogra em visitas, Dr. Chaguinhas disse que aquilo era legalmente impossível.
Ela é avó. Os avós tem todo o direito de visitar os netos.
Ao se despedir do cliente
caminhoneiro, Chaguinhas notou o adesivo colado no automóvel:
– Feliz foi Adão que não teve
sogra nem caminhão.