Pedro Lucas Lindoso
Quem se chama Pedro não escapa
de ser chamado Peter pelos professores de inglês. Nem de Pierre se resolver
também estudar francês. Conheci um caboclo chamado Guilherme que ficou
altamente feliz quando descobriu que seu nome equivalia a William em Inglês. Nome
de rei!
Seu Guigui, como é conhecido,
tem muito dinheiro e pouca instrução. Mas é boa praça. Viaja muito e, claro,
vive passando vexame mundo afora. Mas conta seus contratempos para todos e ri
de si mesmo.
Sonhava em conhecer Florença,
na Itália. Somente quando a excursão retornou a Roma é que seu Guigui descobriu
que Firenze era Florença. Disse que tinha que voltar lá porque na cabeça dele
não tinha conhecido Florença e sim Firenze. Desde então quando se refere a uma
cidade do exterior coloca a tradução em parêntesis.
Estava no avião em voo que
saiu de New York (Nova Iorque) com destino a London (Londres). Ao amanhecer a
comissária lhe ofereceu aquela toalhinha branca, enroladinha e levemente
aquecida. Guigui achava que era tapioquinha e pôs na boca. E conta o fora para
todo mundo. Sem constrangimentos.
Da mesma forma que relata o
dia que quase brigou com a esposa em Paris. Ela queria ir ao Champs Elisée e Guigui
aos Campos Elísios. Quando descobriram que era o mesmo lugar, quase se acabaram
de tanto rir.
Na última vez que esteve na
Europa pegou uma excursão de ônibus saindo de Lisboa até Paris. A guia, uma
senhorinha portuguesa se referia à rainha Elizabeth II, como Isabel II da
Inglaterra. Guigui falou à esposa:
– Essa portuguesa quer me
confundir, disse ele.
E confundiu. Guigui sabia que
iria passar por Bordeaux, no sul da França. Ouviu falar dos vinhos e da cidade.
A portuguesa só chamava a cidade de Bordéus.
Quase acontece o mesmo que aconteceu em Florença.
Ao ouvir as estórias do
Guigui, lembrei-me de Frei Donald, pároco americano da Igreja de Santo Antônio,
em Brasília. Ele aprendeu que os brasileiros chamavam Martin Luther, o
protestante tradutor da bíblia para o Alemão, de Martinho Lutero. Só não
avisaram que o Martin Luther King, o negro americano expoente dos direitos
civis, que foi assassinado, não era Martinho Lutero King.
Ninguém entendeu o sermão
naquele domingo.