Pedro Lucas Lindoso
Santo Antônio é um dos
santos mais queridos do Brasil. Em 13 de junho é celebrado festivamente em
Lisboa, onde nasceu. Aqui no Amazonas, a
cidade de Borba o tem como padroeiro e a festa é considerada uma das maiores do
Brasil.
Minha avó materna, dona
Brigitta Daou, era natural de Borba e devota de Santo Antônio.
– Se milagres tu procuras,
pede-os logo a Santo Antônio, dizia ela.
O santo acalmava o raivoso
mar enfrentado pelos portugueses em direção ao Brasil. Faz achar coisas perdidas
e dá saúde aos doentes. Mas a grande fama de Santo Antônio tem sido como santo
casamenteiro.
Quando Marinete*, conhecida
senhora manauara, fez vinte e um anos, uma de suas primas, maldosamente,
praguejou:
– Vinte e um é o primeiro
tiro da macaca! Vai ficar solteirona.
Em passeio a Portugal, Marinete
comprou em Lisboa uma linda imagem de Santo Antônio. No ano seguinte, ao dar o
segundo tiro da macaca, resolveu ir à festa de Santo Antônio de Borba, aqui no
Amazonas. Levou a imagem portuguesa.
Conversando com uma cabocla
borbense, a qual, cobiçando sua imagem portuguesa, vaticinou:
– Essa imagem você comprou.
Só serve se for roubada. E você tem que maltratar o santo. Põe ele de cabeça
para baixo. Ele vai te arrumar um marido.
Marinete deu-lhe a imagem
portuguesa de presente. Aproveitou para furtar o Santo Antônio da borbense,
displicentemente esquecido na saleta de visitas.
E começou sua saga de maus
tratos e xingamentos ao santo casamenteiro. Pendurava-o de cabeça para baixo.
Chamava-o de careca feioso. Ameaçava afogar o santo numa bacia de água fria.
Dizia que ia prendê-lo num garrafão até ficar sufocado na sua batina fedorenta.
Chegou ao cúmulo da heresia ao chamar o santo de nojento.
Antes do terceiro tiro da
macaca Marinete conheceu um jovem e talentoso advogado que a desposou, com
todas as pompas e circunstâncias.
Esse ano foi agradecer ao
santo Antônio de Borba. Ao confessar seus pecados e heresias feitas ao santo,
ouviu do padre:
– Minha filha, santo Antônio
não merece. É doutor da Igreja. Tinha o dom da ubiquidade. Podia estar em dois
lugres ao mesmo tempo.
Marinete respondeu:
– Me desculpe padre, não
sabia desse dom e nem o que é ubiquidade. O que eu queria mesmo era me casar.
*Nome fictício.