Amigos do Fingidor

terça-feira, 28 de junho de 2016

Tempo em que se contratavam os bois



Pedro Lucas Lindoso

O Festival de Parintins tornou-se um espetáculo de proporções grandiosas. Como o carnaval do Rio de Janeiro, o São João do Nordeste e o Natal da Serra Gaúcha, atrai turistas e promove a cultura gerando emprego e renda, além de movimentar a economia local. Mas em tempos de crise, as verbas estão vasqueiras, como diria meu velho pai.
Dizem que as autoridades responsáveis pelo corte de verbas não vão ao festival. Seria medo do Pai Francisco? Quem corta a língua de boi para satisfazer o desejo da mulher grávida, é capaz de qualquer coisa.
Quando eu era menino e morava na Rua Henrique Martins, sempre meu pai ou algum vizinho contratava um boi para dançar na rua, nas festas de São João. Havia o Mina de Ouro, do Boulevard, o Caprichoso da Praça 14, o Garantido da Cachoeirinha, o Tira Prosa do Imboca, e ainda o Pai do Campo, Teimoso e muitos outros.
A lenda retrata a história de Pai Francisco, um escravo que, para saciar o desejo de Catirina, sua esposa grávida, por uma língua de boi, acaba por matar o animal de estimação do senhor da fazenda. Percebendo a morte do boi, o coronel convoca pajés, índios e caboclos para ressuscitar o animal. O boi ressuscita e a alegria é geral com festas e tudo mais.
Naquele tempo o Poder Público não se metia nem dava verbas. E tudo era muito simples. Cada bairro ou comunidade administrava seu boi, dentro das tradições com origem no folclore do Maranhão. E parte dos custos vinha da contribuição das famílias que contratavam os bois para brincar em suas ruas, em frente às casas ou no quintal.
Obviamente não havia o glamour, a grande ópera popular folclórica que temos hoje e que impulsiona a economia principalmente da cidade de Parintins, a Ilha Tupinambarana.
Li na imprensa que as autoridades responsáveis pelo orçamento estão sendo pressionadas diuturnamente por verbas para os bois. E provavelmente sentem saudades de uma época em que as famílias contratavam e pagavam pelo espetáculo dos bumbás. Ninguém lucrava com os bois. Era um movimento folclórico genuíno.
Muitos devem estar pensando:
– Tempo bom aquele em que se contratavam os bois.