Pedro Lucas Lindoso
O Festival de Parintins
tornou-se um espetáculo de proporções grandiosas. Como o carnaval do Rio de
Janeiro, o São João do Nordeste e o Natal da Serra Gaúcha, atrai turistas e
promove a cultura gerando emprego e renda, além de movimentar a economia local.
Mas em tempos de crise, as verbas estão vasqueiras, como diria meu velho pai.
Dizem que as autoridades responsáveis
pelo corte de verbas não vão ao festival. Seria medo do Pai Francisco? Quem
corta a língua de boi para satisfazer o desejo da mulher grávida, é capaz de
qualquer coisa.
Quando eu era menino e morava
na Rua Henrique Martins, sempre meu pai ou algum vizinho contratava um boi para
dançar na rua, nas festas de São João. Havia o Mina de Ouro, do Boulevard, o
Caprichoso da Praça 14, o Garantido da Cachoeirinha, o Tira Prosa do Imboca, e
ainda o Pai do Campo, Teimoso e muitos outros.
A lenda retrata a história de
Pai Francisco, um escravo que, para saciar o desejo de Catirina, sua esposa grávida,
por uma língua de boi, acaba por matar o animal de estimação do senhor da
fazenda. Percebendo a morte do boi, o coronel convoca pajés, índios e caboclos para
ressuscitar o animal. O boi ressuscita e a alegria é geral com festas e tudo
mais.
Naquele tempo o Poder Público
não se metia nem dava verbas. E tudo era muito simples. Cada bairro ou
comunidade administrava seu boi, dentro das tradições com origem no folclore do
Maranhão. E parte dos custos vinha da contribuição das famílias que contratavam
os bois para brincar em suas ruas, em frente às casas ou no quintal.
Obviamente não havia o
glamour, a grande ópera popular folclórica que temos hoje e que impulsiona a
economia principalmente da cidade de Parintins, a Ilha Tupinambarana.
Li na imprensa que as
autoridades responsáveis pelo orçamento estão sendo pressionadas diuturnamente
por verbas para os bois. E provavelmente sentem saudades de uma época em que as
famílias contratavam e pagavam pelo espetáculo dos bumbás. Ninguém lucrava com
os bois. Era um movimento folclórico genuíno.
Muitos devem estar pensando:
– Tempo bom aquele em que se
contratavam os bois.