Pedro Lucas Lindoso
Muito se fala em
descriminalizar a maconha, principalmente para uso medicinal. Por enquanto é
proibido por lei. Usar e portar. Tia Idalina, a amazonense mais inglesa que
conheço é categórica. Qualquer coisa proibida por lei é crime. Idalina é a
única pessoa que conheço que verifica se o elevador está no andar, antes de
entrar. E diz repetidamente:
– Lei é lei, meu filho.
Eu sou uma cidadã que observa e cumpre, com radicalidade, todas as leis de meu
país.
Há alguns meses Idalina
apresentou uma grave inflamação no intestino, que acarreta em fortes dores.
Após vários médicos consultados e muitos remédios tomados, Luís Augusto, seu
sobrinho alternativo, sugeriu, na maior cara de pau, o uso de cannabis sativa. Logo para quem!
– O tetrahidrocanabinol
(THC) e o canabidiol (CBD) vão melhorar suas dores, com certeza, explicou Luís
Augusto.
– Mas o que é isso, meu
filho? Perguntou Idalina. Ao explicar-lhe que se tratava de maconha, titia
quase teve uma síncope. Uma piloura, um cangolé, como ela diz. Praticamente
expulsou o sobrinho de casa. Imagine se, nessa idade, ela, uma lady, iria virar maconheira! Nem morta!
Luís explicou que a cannabis sativa é uma das substâncias
psicoativas mais antigas da história. Os primeiros tratamentos com ervas
medicinais que se conhece, concebidos há séculos na China, já mencionam a
maconha.
– Não me interessa. É ilegal.
É crime. Ponto final.
Passados alguns dias,
como as dores se tornaram agudas e persistentes, Idalina telefonou para Luís
Augusto. Queria saber se havia um meio legal para utilizar-se o tal “remédio da
qual ela não ousa falar o nome”. Vende-se nos Estados Unidos, com autorização
judicial para importar o produto. Animada, Idalina consultou um advogado que,
segundo ela, cobrou-lhe os olhos da cara. Quis saber o que aconteceria se fosse
pega com maconha. Explicaram para titia que, de acordo com a Lei de Drogas,
quem porta substância entorpecente ou faz o cultivo dela para uso próprio
recebe sanções de cunho socioeducativo. Já traficantes, que não seria o seu
caso, ficam até 15 anos na cana dura.
Nesse meio tempo,
Idalina começou a fazer um excelente tratamento homeopático, totalmente lícito.
E ficou boa. Feliz por dizer não à droga e aliviada por não ter que se tornar
uma velha maconheira. Idalina explica suas razões em recusar o tratamento
alternativo:
– Não tenho mais idade
para receber sanções de cunho socioeducativo.