Amigos do Fingidor

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Sanções de cunho socioeducativo!


Pedro Lucas Lindoso

Muito se fala em descriminalizar a maconha, principalmente para uso medicinal. Por enquanto é proibido por lei. Usar e portar. Tia Idalina, a amazonense mais inglesa que conheço é categórica. Qualquer coisa proibida por lei é crime. Idalina é a única pessoa que conheço que verifica se o elevador está no andar, antes de entrar. E diz repetidamente:
– Lei é lei, meu filho. Eu sou uma cidadã que observa e cumpre, com radicalidade, todas as leis de meu país.
Há alguns meses Idalina apresentou uma grave inflamação no intestino, que acarreta em fortes dores. Após vários médicos consultados e muitos remédios tomados, Luís Augusto, seu sobrinho alternativo, sugeriu, na maior cara de pau, o uso de cannabis sativa. Logo para quem!
– O tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) vão melhorar suas dores, com certeza, explicou Luís Augusto.
– Mas o que é isso, meu filho? Perguntou Idalina. Ao explicar-lhe que se tratava de maconha, titia quase teve uma síncope. Uma piloura, um cangolé, como ela diz. Praticamente expulsou o sobrinho de casa. Imagine se, nessa idade, ela, uma lady, iria virar maconheira! Nem morta!
Luís explicou que a cannabis sativa é uma das substâncias psicoativas mais antigas da história. Os primeiros tratamentos com ervas medicinais que se conhece, concebidos há séculos na China, já mencionam a maconha.
– Não me interessa. É ilegal. É crime. Ponto final.
Passados alguns dias, como as dores se tornaram agudas e persistentes, Idalina telefonou para Luís Augusto. Queria saber se havia um meio legal para utilizar-se o tal “remédio da qual ela não ousa falar o nome”. Vende-se nos Estados Unidos, com autorização judicial para importar o produto. Animada, Idalina consultou um advogado que, segundo ela, cobrou-lhe os olhos da cara. Quis saber o que aconteceria se fosse pega com maconha. Explicaram para titia que, de acordo com a Lei de Drogas, quem porta substância entorpecente ou faz o cultivo dela para uso próprio recebe sanções de cunho socioeducativo. Já traficantes, que não seria o seu caso, ficam até 15 anos na cana dura.
Nesse meio tempo, Idalina começou a fazer um excelente tratamento homeopático, totalmente lícito. E ficou boa. Feliz por dizer não à droga e aliviada por não ter que se tornar uma velha maconheira. Idalina explica suas razões em recusar o tratamento alternativo:
– Não tenho mais idade para receber sanções de cunho socioeducativo.