Amigos do Fingidor

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Ao vencedor, as batatas!


Pedro Lucas Lindoso

Ler e reler Machado de Assis é essencial. Machado não é só Literatura Brasileira. É universal. Não sou especialista em Machado. Até gostaria de ser para poder afirmar com autoridade: Capitu traiu Bentinho. No célebre “Dom Casmurro” não está explícita a traição. Mas o filho deles era a cara de Escobar, amigo de Bentinho. Com aqueles “olhos de ressaca”, “de cigana, oblíquos, dissimulados”. Eu não tenho dúvidas. Capitu foi adúltera. Hoje isso nem mais é crime.
Sempre digo a pais e professores que se deve introduzir Machado aos adolescentes bem devagar. “Despacito”. “Doucement”, como se diz em Francês. A melhor maneira é começar pelos contos. Não se pode permitir que adolescentes considerem Machado de Assis “chato de ler”. Podem até achar isso de José de Alencar. Mas o Machado, não. Jamais. Começar pelos contos então é fundamental. Há vários. Um dos meus preferidos é “O Espelho”.
Nesse magnífico conto Machado nos ensina que cada pessoa possui duas almas: uma exterior e outra interior. “A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação.”
Conheço pessoas cuja alma exterior é o poder, outras a fama e outros o dinheiro. Ou o conjunto de tudo isso. Para essas pessoas, a alma exterior é muito mais importante do que a “alma interna”. Ou seja, a nossa real personalidade.
Além do famoso “Dom Casmurro”, dos contos e crônicas, Machado brindou a Humanidade com seu “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Nesse livro aprendi que “O menino é o pai do homem”.  Há pessoas que são matreiras, ardilosas, manipuladoras desde os dias de mais tenra infância. Outras exercem virtudes já de pequeninos.
Por fim, cabe lembrar uma das mais inteligentes e impagáveis tiradas do grande Machado de Assis.  Essa é de Quincas Borba, talvez o meu romance preferido. Em época de impeachments, mandatos ceifados judicialmente em consequência de eleições eivadas de fraude, manipulações e compra de votos, nada mais contemporâneo quando Quincas Borba finaliza: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.