Pedro Lucas Lindoso
Ler e reler Machado de Assis é essencial. Machado não é só
Literatura Brasileira. É universal. Não sou especialista em Machado. Até
gostaria de ser para poder afirmar com autoridade: Capitu traiu Bentinho. No
célebre “Dom Casmurro” não está explícita a traição. Mas o filho deles era a
cara de Escobar, amigo de Bentinho. Com aqueles “olhos de ressaca”, “de cigana,
oblíquos, dissimulados”. Eu não tenho dúvidas. Capitu foi adúltera. Hoje isso
nem mais é crime.
Sempre digo a pais e professores que se deve introduzir
Machado aos adolescentes bem devagar. “Despacito”. “Doucement”, como se diz em
Francês. A melhor maneira é começar pelos contos. Não se pode permitir que
adolescentes considerem Machado de Assis “chato de ler”. Podem até achar isso
de José de Alencar. Mas o Machado, não. Jamais. Começar pelos contos então é
fundamental. Há vários. Um dos meus preferidos é “O Espelho”.
Nesse magnífico conto Machado nos ensina que cada pessoa
possui duas almas: uma exterior e outra interior. “A alma exterior pode ser um
espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação.”
Conheço pessoas cuja alma exterior é o poder, outras a fama e
outros o dinheiro. Ou o conjunto de tudo isso. Para essas pessoas, a alma
exterior é muito mais importante do que a “alma interna”. Ou seja, a nossa real
personalidade.
Além do famoso “Dom Casmurro”, dos contos e crônicas, Machado
brindou a Humanidade com seu “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Nesse livro
aprendi que “O menino é o pai do homem”.
Há pessoas que são matreiras, ardilosas, manipuladoras desde os dias de
mais tenra infância. Outras exercem virtudes já de pequeninos.
Por fim, cabe lembrar uma das mais inteligentes e impagáveis
tiradas do grande Machado de Assis. Essa
é de Quincas Borba, talvez o meu romance preferido. Em época de impeachments,
mandatos ceifados judicialmente em consequência de eleições eivadas de fraude,
manipulações e compra de votos, nada mais contemporâneo quando Quincas Borba
finaliza: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.