Pedro Lucas Lindoso
Tia Idalina é a mais ilustre amazonense dos moradores de
Copacabana. Pelo menos uma vez por mês convoca amigos, sobrinhos e conhecidos
de Manaus para um tacacá. Compra tucupi goma e jambu de uma senhora paraense
moradora de Quintino, subúrbio do Rio de Janeiro.
Estava por lá no último tacacá. O assunto era o aniversário
de Manaus. Tia Idalina se lembrou de uma grande comemoração. E nos contou:
– Eu era menina quando se comemorou os 100 anos de Manaus. 24
de outubro de 1948. Fiquei abismada quando soube agora que a cidade vai fazer
348 anos! Então liguei para Etelvina Garcia. Fiquei aliviada. Ainda não estava
caduca. Ela, grande conhecedora de nossa História, confirmou as comemorações.
Explicou-me que em 24 de outubro de 1848 não só Manaus, mas também Santarém e
Cametá foram elevadas à categoria de cidade, por lei advinda da Assembleia
Legislativa da Província do Grão Pará! A
Província do Amazonas só seria criada em 5 de setembro de 1850.
– Eram vilas e tornaram-se cidades! E completou lembrando que
a origem de Manaus foi o forte de São José do Rio Negro. Não se sabe o dia nem
mesmo o mês da construção do forte. Mas o ano é 1669. Daí a celebração dos 348
anos! Uma mescla de datas e celebrações.
Um dos convidados, que obviamente não era amazonense,
questionou se éramos manauenses ou manauaras. Teria ouvido dizer que manauaras
eram “os que ficavam mais perto dos índios” e que manauenses “eram os mais
urbanos”.
Tia Idalina quase desmaiou com a imbecilidade posta na
conversa. Alguém subitamente foi se socorrer de um dicionário. Trouxe o
dicionário Houaiss, hoje mais festejado que o Aurélio. As duas formas são
aceitas. Substantivo comum de dois gêneros. Relativo ou pertencente à Manaus “o
que é seu natural ou habitante”.
Fui instado a opinar. Pedi desculpas ao carioca desavisado e
disse aos convivas que já ouvi outras baboseiras procurando diferenciar
manauara de manauense. Eu prefiro manauara. O jornal Acrítica usa manauense.
Historicamente somos todos amazonenses. Os dicionários estão, obviamente,
corretos, ambas as formas são aceitas.
Mas na verdade, Manaus é “terra dos barés, dos igarapés, rios
colossais”, como diz a velha canção que aprendi no jardim da Infância Visconde
de Mauá.