Amigos do Fingidor

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Manaus, terra dos barés


Pedro Lucas Lindoso


Tia Idalina é a mais ilustre amazonense dos moradores de Copacabana. Pelo menos uma vez por mês convoca amigos, sobrinhos e conhecidos de Manaus para um tacacá. Compra tucupi goma e jambu de uma senhora paraense moradora de Quintino, subúrbio do Rio de Janeiro.
Estava por lá no último tacacá. O assunto era o aniversário de Manaus. Tia Idalina se lembrou de uma grande comemoração. E nos contou:
– Eu era menina quando se comemorou os 100 anos de Manaus. 24 de outubro de 1948. Fiquei abismada quando soube agora que a cidade vai fazer 348 anos! Então liguei para Etelvina Garcia. Fiquei aliviada. Ainda não estava caduca. Ela, grande conhecedora de nossa História, confirmou as comemorações. Explicou-me que em 24 de outubro de 1848 não só Manaus, mas também Santarém e Cametá foram elevadas à categoria de cidade, por lei advinda da Assembleia Legislativa da Província do Grão Pará!  A Província do Amazonas só seria criada em 5 de setembro de 1850.
– Eram vilas e tornaram-se cidades! E completou lembrando que a origem de Manaus foi o forte de São José do Rio Negro. Não se sabe o dia nem mesmo o mês da construção do forte. Mas o ano é 1669. Daí a celebração dos 348 anos! Uma mescla de datas e celebrações.
Um dos convidados, que obviamente não era amazonense, questionou se éramos manauenses ou manauaras. Teria ouvido dizer que manauaras eram “os que ficavam mais perto dos índios” e que manauenses “eram os mais urbanos”.
Tia Idalina quase desmaiou com a imbecilidade posta na conversa. Alguém subitamente foi se socorrer de um dicionário. Trouxe o dicionário Houaiss, hoje mais festejado que o Aurélio. As duas formas são aceitas. Substantivo comum de dois gêneros. Relativo ou pertencente à Manaus “o que é seu natural ou habitante”.
Fui instado a opinar. Pedi desculpas ao carioca desavisado e disse aos convivas que já ouvi outras baboseiras procurando diferenciar manauara de manauense. Eu prefiro manauara. O jornal Acrítica usa manauense. Historicamente somos todos amazonenses. Os dicionários estão, obviamente, corretos, ambas as formas são aceitas.
Mas na verdade, Manaus é “terra dos barés, dos igarapés, rios colossais”, como diz a velha canção que aprendi no jardim da Infância Visconde de Mauá.