Amigos do Fingidor

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Possibilidade de uma ética pré-social



João Bosco Botelho
 
É razoável pensar a Medicina e o Direito como partes fundamentais da ontogenia, ambas voltados à valorização da vida em torno da ética e da moral, estruturando os bons resultados: os agentes da Medicina controlando a dor e empurrando os limites da vida e os agentes do Direto construindo mecanismos sociais e políticos para evitar a antijuricidade. 
A característica universal da ação moral, citada por Kant; isso é, a busca incessante para que o comportamento humano estivesse sempre ao lado da virtude, ultrapassa as relações sociais em si mesmas. Não é impertinência pensar que esse desejo humano, desde um passado impossível de precisar, de valorizar a virtude como antagonismo ao vicio, seja um processo sociogenético gerado ao longo da humanização, ligado à sobrevivência desde os ancestrais mais distantes.
Incontáveis culturas, nos quatro cantos do mundo, pelo menos desde os primeiros registros de natureza religiosa e laica, continuam lutando para instrumentalizar regras valorizando a ética junto da moral como características insubstituíveis e universais, como genialmente Kant descreveu, da condição humana.
É possível articular um pensamento teórico entendendo esse conjunto como pré-social, isto é, inserido na herança genética, ao longo da ontogenia, resultando na existência de uma ou mais memórias-sócio-genéticas (processo teórico para explicar alguns aspectos da organização social), ligadas à valorização da virtude, da moral, da ética, como instrumentos para adequar a sobrevivência coletiva e superar os contrários que dissolvem sem reconstruir. Simultaneamente, essas memórias sociogenéticas (MSGs) também interferem na manifestação pessoal e coletiva do desprezo ao vício, que corrompe e compromete a sobrevivência.
Esse conjunto organizador social presente nas MSGs, vinculado à sobrevivência e ao ajuste ético-moral, no processo da ontogenia, amparando a vida pessoal e coletiva, claramente desprezando o vício (aqui compreendido como oposição ao ético-moral, à virtude) se manifesta socialmente por meio de categorias metamórficas, também presentes nos cinco continentes, entre culturas que nunca mantiveram contato, amparando a sobrevivência pessoal e coletiva, com forte participação da Medicina e do Direito. 
É difícil atribuir a atávica busca da virtude somente às relações sociais!