João Bosco Botelho
É razoável pensar a Medicina e o Direito como partes
fundamentais da ontogenia, ambas voltados à valorização da vida em torno da
ética e da moral, estruturando os bons resultados: os agentes da Medicina
controlando a dor e empurrando os limites da vida e os agentes do Direto
construindo mecanismos sociais e políticos para evitar a antijuricidade.
A característica universal da ação moral, citada por Kant;
isso é, a busca incessante para que o comportamento humano estivesse sempre ao
lado da virtude, ultrapassa as relações sociais em si mesmas. Não é
impertinência pensar que esse desejo humano, desde um passado impossível de precisar,
de valorizar a virtude como antagonismo ao vicio, seja um processo sociogenético
gerado ao longo da humanização, ligado à sobrevivência desde os ancestrais mais
distantes.
Incontáveis culturas, nos quatro cantos do mundo, pelo menos
desde os primeiros registros de natureza religiosa e laica, continuam lutando
para instrumentalizar regras valorizando a ética junto da moral como
características insubstituíveis e universais, como genialmente Kant descreveu,
da condição humana.
É possível articular um pensamento teórico entendendo esse
conjunto como pré-social, isto é, inserido na herança genética, ao longo da
ontogenia, resultando na existência de uma ou mais memórias-sócio-genéticas
(processo teórico para explicar alguns aspectos da organização social), ligadas
à valorização da virtude, da moral, da ética, como instrumentos para adequar a
sobrevivência coletiva e superar os contrários que dissolvem sem reconstruir. Simultaneamente,
essas memórias sociogenéticas (MSGs) também interferem na manifestação pessoal
e coletiva do desprezo ao vício, que corrompe e compromete a sobrevivência.
Esse conjunto organizador social presente nas MSGs, vinculado
à sobrevivência e ao ajuste ético-moral, no processo da ontogenia, amparando a
vida pessoal e coletiva, claramente desprezando o vício (aqui compreendido como
oposição ao ético-moral, à virtude) se manifesta socialmente por meio de
categorias metamórficas, também presentes nos cinco continentes, entre culturas
que nunca mantiveram contato, amparando a sobrevivência pessoal e coletiva, com
forte participação da Medicina e do Direito.
É difícil atribuir a atávica busca da virtude somente às
relações sociais!