Amigos do Fingidor

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Doença e vida social


João Bosco Botelho


Há muito tempo, sabe-se da estreita relação entre saúde e doença e o modo como as sociedades se organizaram. Hoje, basta comparar o tipo de doença, no mesmo período, nos países industrializados e nos subdesenvolvidos, para se ter certeza da importância da saúde como indicador social.
Depois da publicação dos trabalhos do pesquisador Susumi Tonegawa, o Nobel da Medicina de 1987 esclareceu algumas dúvidas de como ocorre a variação dos aminoácidos dos anticorpos produzidos pelos linfócitos B.
Tonegawa demonstrou que quando o linfócito B se desenvolve, segmentos do seu material genético são autosselecionados e misturados para formar novos genes, dando origem a milhões de sequências variadas de aminoácidos, capazes de efetuar com mais competência a defesa do corpo humano contra as doenças.
Como consequência imediata dessas pesquisas, é possível afirmar que pelo menos parte da estrutura genética do homem é móvel, capaz de desenvolver durante a vida infinidade de combinações gênicas adaptativas. Para que este mecanismo biológico ocorra na plenitude, é indispensável que o corpo disponha da mais importante fonte de energia: o alimento.                                                                                  
Deste modo, caíram por terra os pressupostos racistas alimentados pelos interesses dos diferentes matizes ideológicos. Isso significa que as crianças subnutridas dos países pobres não poderão competir, em igualdades de condições, com outras dos países industrializados, onde a oferta de alimentos, indispensável para a maturação do genoma, é feita em níveis calóricos adequados.
A demonstração pode ser também feita pela leitura do quadro de medalhas na última olimpíada, onde os atletas do Terceiro Mundo ficaram com 20% dos melhores índices. 
Os conceitos positivos da imobilidade da saúde e da doença foram substituídos pela convicção da existência do equilíbrio dinâmico entre ambas, onde ter a doença não significa, necessariamente, estar doente. Esta tendência está mais clara a partir do século XIX, quando o médico abandonou o conceito restritivo da saúde e adotou o da normalidade, provavelmente motivado pela melhor compreensão da fisiologia experimental, em plena efervescência, nos trabalhos de Claude Bernard. 
Mesmo antes dessa comprovação científica, os legisladores interferiram nos hábitos coletivos das populações. Assim, conseguiram determinar modificações na cadeia epidemiológica de muitas doenças. Um exemplo histórico de fácil verificação é o câncer do colo uterino, com baixa prevalência entre as judias. A atual explicação é dada pela cirurgia da fimose – circuncisão – nos homens judeus no sétimo dia após o nascimento. Com isto, o prepúcio fica livre, facilitando a higiene e impedindo que o vírus Epstein Baar, relacionado com a etiologia do câncer do colo uterino, se aloje no secreção presente na glande peniana.