João Bosco Botelho
No fantástico livro Tratado
Ético, no capitulo “A Lei”, Hipócrates afirma no primeiro parágrafo:
“A Medicina é de todas as profissões a mais nobre, e,
entretanto, por ignorância dos que já a exercem e a julgam superficialmente,
ela é apresentada no último plano... Mas as coisas sagradas se revelam somente
aos homens sagrados, sendo proibido de ensinar aos profanos e aos que não são
iniciados nos mistérios da ciência”.
Parece não haver dúvida do fato que os teóricos da Escola de
Cós, ao mesmo tempo em que afastavam as ideias e crenças religiosas das
práticas médicas, mantiveram o aspecto sagrado da Medicina.
Um dos vestígios históricos mais impressionantes dessa
ligação da Medicina com os ritos do panteão grego é a data de comemoração do
dia do médico – 18 de outubro, que corresponde, na mitologia grega, ao dia em
que o deus-médico Asclépio, filho de Apolo, era celebrado na Grécia Antiga.
Asclépio, o deus protetor da Medicina, também taumaturgo, filho
também da bela Corones, era festejado no dia 18 de outubro. Asclépio foi
educado pelo centauro Quirão para ser mais cirurgião do que médico, talvez para
proteger os cirurgiões, já que naquela época as complicações das cirurgias eram
mais frequentes, se comparadas com as práticas médicas não invasivas.
Ainda sob a
perspectiva de proteger a vida, a construção do panteão de Asclépio deixou o
legado de duas filhas, Hígia e Panaceia, vinculadas aos tratamentos clínicos, e
dois filhos, Podalírio e Macaão, citados por Homero, que se distinguiram como
cirurgiões na guerra de Tróia.
Nos séculos seguintes, Asclépio também representado por uma
serpente enrolada num bastão da madeira, recebeu fama inimaginável, algumas
vezes promovendo ressurreições dos mortos e curando todos os doentes que não
conseguiam a saúde pelos favores de outros deuses e deusas. Contudo, temendo
que a ordem do mundo fosse alterada pelas ressurreições, Zeus determinou a
morte de Asclépio com os raios dos Ciclopes.
Mais uma vez, a mitologia grega se ajustava à realidade do
cotidiano: ressuscitar os mortos não faz parte da natureza do mundo!
Esse conjunto teórico da ética médica manteve estrita ligação
com o Direito, ambos valorizando a vida, vigiando e punindo práticas que
pudessem prejudicar a saúde de qualquer pessoa.
A presença dessa busca é abundante e densa de conceitos
éticos e morais que integravam o homem à polis, na Grécia do século 4 a.C., no
livro de Platão, As leis, e nos de
Aristóteles, A Política e Ética a Nicômaco.