Amigos do Fingidor

terça-feira, 27 de março de 2018

O silêncio de José



Pedro Lucas Lindoso


No dia 19 de março celebra-se São José. Há muitos devotos aqui no Amazonas. O santuário a ele dedicado é grande e muito frequentado. Provavelmente, essa devoção seja herança cultural dos milhares de cearenses que vieram para cá, enriquecendo-nos com sua cultura, crenças e tradições.
A figura bíblica de José é intrigante. Pessoalmente, eu já meditei muito sobre este mistério. José, noivo de Maria, é informado por um anjo do Senhor que sua futura esposa irá conceber uma criança que será o nosso Salvador. Diferente de Maria, que tem “falas” bíblicas, como: “Eis a serva do Senhor”, José obedece às instruções divinas num silencio totalmente obsequioso. Penso que todos nós homens, cristãos ou não, podemos ficar intrigados com a atitude de José.
Uma jovem amazonense, moradora da Zona Leste da cidade, também chamada Maria, apaixonou-se pelo rapaz errado. E dele engravidou. Essa manauara, Maria do século 21, que não é nenhuma santa, deu um passo errado, com o rapaz mais errado ainda. O moço foi assassinado pela violência inerente às disputas pelo tráfico de drogas na cidade.
A jovem Maria, apavorada, relatou o fato a sua mãe, que quase desmaiou. E disse à filha:
– Teu pai vai te matar. Vai te expulsar de casa!
Mãe e filha não tiveram alternativa a não ser relatar tudo àquele homem. Trabalhador e pai de família, também chamado José. Ambas apavoradas com a sua reação. Certamente ficaria violento ao saber que a filha de dezesseis anos estava grávida de um bandido.
O homem ouviu tudo. Uma lágrima rolou em seu rosto. Não disse absolutamente nada. Abraçou a mulher e a filha. Ambas espantadas com a reação do pai e marido. O homem continuou em silêncio.  Um silêncio tão obsequioso quanto o de São José. Mas diferente. Ali havia perdão.
O silêncio de São José e do José manauara só pode ser explicado no amor. Imenso amor a Deus e à vida.