João Bosco Botelho
Os indicativos apontam, com clareza, que a ciência caminha na
direção da melhor compreensão do átomo e a medicina, inexoravelmente, seguirá
na mesma trilha e aplicará as novas teorias na busca da arqueologia da doença,
trazendo à discussão os processos teóricos do caos, instabilidade que
persiste.
Apesar do grande avanço tecnológico que o homem alcançou com
a mecanização, automação do cotidiano, interferindo cada vez mais profundamente
no domínio da natureza, persistem muitas questões fundamentais para que se
possa compreender melhor a coisa em si (referida ao conceito kantiano).
Contudo, deve ficar claro que esta abordagem teórica está voltada à certeza da
resolutividade do processo histórico do conhecimento como ponte para
transformar a coisa em si para a coisa para nós.
O caos está presente em toda a natureza. Ele pode se manifestar
quando um objeto é submetido ao efeito de mais de uma força gerando situações
impossíveis, com os atuais conhecimentos, de previsibilidade. Os exemplos mais
banais vão desde a tentativa de prever o próximo movimento de uma folha que
corre livre ao sabor da corrente das águas de um rio, uma bactéria que
sobrevive na corrente sanguínea até às previsões climáticas (o movimento do
ar). Nestes exemplos ainda não é possível saber o que poderá acontecer à folha,
à bactéria e se terá ou não tempestade em Malta num determinado dia, mesmo
utilizando os mais sofisticados e complexos sistemas de cálculos.
A maior dificuldade reside em separar a supremacia do caos à aparente
estabilidade e ritmicidade do cosmo. Aqui tudo se apresenta dentro de um ritmo
uniforme e eterno: a noite, o dia, as estações do ano, as estrelas e o
movimento dos planetas. Sob a guarda dessa ritmicidade aparente que o homem
começou a transformar a natureza e se fez Homem acumulando o conhecimento. Do
mesmo modo, foi construída uma compreensão estática da saúde e da doença, onde
parecia existir um divisor de águas entre o homem doente e o sadio, sendo
aquele representado pela negação e este pela afirmação da vida.
(Continua...)