Amigos do Fingidor

quinta-feira, 5 de julho de 2018

A medicina e o caos 1/2



João Bosco Botelho
   

Os indicativos apontam, com clareza, que a ciência caminha na direção da melhor compreensão do átomo e a medicina, inexoravelmente, seguirá na mesma trilha e aplicará as novas teorias na busca da arqueologia da doença, trazendo à discussão os processos teóricos do caos, instabilidade que persiste. 
Apesar do grande avanço tecnológico que o homem alcançou com a mecanização, automação do cotidiano, interferindo cada vez mais profundamente no domínio da natureza, persistem muitas questões fundamentais para que se possa compreender melhor a coisa em si (referida ao conceito kantiano). Contudo, deve ficar claro que esta abordagem teórica está voltada à certeza da resolutividade do processo histórico do conhecimento como ponte para transformar a coisa em si para a coisa para nós. 
O caos está presente em toda a natureza. Ele pode se manifestar quando um objeto é submetido ao efeito de mais de uma força gerando situações impossíveis, com os atuais conhecimentos, de previsibilidade. Os exemplos mais banais vão desde a tentativa de prever o próximo movimento de uma folha que corre livre ao sabor da corrente das águas de um rio, uma bactéria que sobrevive na corrente sanguínea até às previsões climáticas (o movimento do ar). Nestes exemplos ainda não é possível saber o que poderá acontecer à folha, à bactéria e se terá ou não tempestade em Malta num determinado dia, mesmo utilizando os mais sofisticados e complexos sistemas de cálculos.  
A maior dificuldade reside em separar a supremacia do caos à aparente estabilidade e ritmicidade do cosmo. Aqui tudo se apresenta dentro de um ritmo uniforme e eterno: a noite, o dia, as estações do ano, as estrelas e o movimento dos planetas. Sob a guarda dessa ritmicidade aparente que o homem começou a transformar a natureza e se fez Homem acumulando o conhecimento. Do mesmo modo, foi construída uma compreensão estática da saúde e da doença, onde parecia existir um divisor de águas entre o homem doente e o sadio, sendo aquele representado pela negação e este pela afirmação da vida. 

(Continua...)