Pedro Lucas Lindoso
O rapaz vivia repetindo “miséria pouca é bobagem”. Ganhou o
apelido de Zé Bobagem. Goiano e morador de Brasília, decidiu que seria policial
federal. Encetou um programa de estudos com esse objetivo. Zé é professor de
educação física e “personal” nas horas vagas.
Após dois anos de cursinho e muito estudo veio o edital
esperado. Provas em diversas capitais, inclusive em Manaus, cidade que já foi
chamada de sorriso. Mas hoje é só isso! Com muito trânsito e muito buraco.
Pois bem! Zé Bobagem soube que a nota de corte em Manaus
possivelmente seria menor e com maior chance de aprovação. Eureca! Faria a
prova em Manaus!
Devidamente inscrito no concurso e com muitas horas de
dedicação e estudo estava pronto para enfrentar a prova na capital amazonense.
Faltava uma semana para o concurso quando Zé Bobagem resolve comprar a
passagem! Um susto. O trecho Brasília-Manaus-Brasília estava variando entre
três a quatro mil reais. Para a véspera da prova estava mais caro ainda. Era
fim de ano. Receberia o décimo terceiro. Miséria pouca é bobagem, pensou.
Comprou a prazo, no cartão.
O voo de Zé chegou por volta de uma hora da madrugada.
Horário Manaus. Estava cansado. Era novembro, e no verão a diferença de fuso
entre Brasília e Manaus é de duas horas.
Zé dispensou o Uber. Precisava que o taxista lhe indicasse um
hotel perto do local da prova. Marcada para as 13:00 horas (horário de
Brasília).
Não há taxi comum no aeroporto de Manaus. Só especial. Outro
susto. A hospedagem mais próxima da prova não era bem um hotel. Trata-se do mais
antigo motel da cidade. Leva o nome do mais famoso dos répteis. O local é
possivelmente tão antigo quanto a famosa serpente da Bíblia.
Os barulhos estranhos e o cheiro de mofo não foram
suficientes para amainar o cansaço e tirar o sono de Zé Bobagem. Dormiu
profundamente. Acordou por volta das dez horas.
Pediu café da manhã. Considerando-se a decadência do local, até que não
estava tão ruim. A prova seria às 13:00 horas. Deixou o motel por volta das 11:00
horas, com banho tomado e todo serelepe.
Ao chegar ao local da prova os portões estavam fechados. Eram
11:15 horas em Manaus. Em Brasília já passava das 13:00 horas!
Na sexta série do Ensino Fundamental ensina-se fuso horário.
Zé perdeu essa aula. Não merecia mesmo passar no concurso. Desgraça pouca é bobagem.