Amigos do Fingidor

terça-feira, 10 de julho de 2018

Miséria pouca é bobagem



Pedro Lucas Lindoso


O rapaz vivia repetindo “miséria pouca é bobagem”. Ganhou o apelido de Zé Bobagem. Goiano e morador de Brasília, decidiu que seria policial federal. Encetou um programa de estudos com esse objetivo. Zé é professor de educação física e “personal” nas horas vagas.
Após dois anos de cursinho e muito estudo veio o edital esperado. Provas em diversas capitais, inclusive em Manaus, cidade que já foi chamada de sorriso. Mas hoje é só isso! Com muito trânsito e muito buraco.
Pois bem! Zé Bobagem soube que a nota de corte em Manaus possivelmente seria menor e com maior chance de aprovação. Eureca! Faria a prova em Manaus!
Devidamente inscrito no concurso e com muitas horas de dedicação e estudo estava pronto para enfrentar a prova na capital amazonense. Faltava uma semana para o concurso quando Zé Bobagem resolve comprar a passagem! Um susto. O trecho Brasília-Manaus-Brasília estava variando entre três a quatro mil reais. Para a véspera da prova estava mais caro ainda. Era fim de ano. Receberia o décimo terceiro. Miséria pouca é bobagem, pensou. Comprou a prazo, no cartão.
O voo de Zé chegou por volta de uma hora da madrugada. Horário Manaus. Estava cansado. Era novembro, e no verão a diferença de fuso entre Brasília e Manaus é de duas horas.
Zé dispensou o Uber. Precisava que o taxista lhe indicasse um hotel perto do local da prova. Marcada para as 13:00 horas (horário de Brasília).
Não há taxi comum no aeroporto de Manaus. Só especial. Outro susto. A hospedagem mais próxima da prova não era bem um hotel. Trata-se do mais antigo motel da cidade. Leva o nome do mais famoso dos répteis. O local é possivelmente tão antigo quanto a famosa serpente da Bíblia.
Os barulhos estranhos e o cheiro de mofo não foram suficientes para amainar o cansaço e tirar o sono de Zé Bobagem. Dormiu profundamente. Acordou por volta das dez horas.  Pediu café da manhã. Considerando-se a decadência do local, até que não estava tão ruim. A prova seria às 13:00 horas. Deixou o motel por volta das 11:00 horas, com banho tomado e todo serelepe.
Ao chegar ao local da prova os portões estavam fechados. Eram 11:15 horas em Manaus. Em Brasília já passava das 13:00 horas!
Na sexta série do Ensino Fundamental ensina-se fuso horário. Zé perdeu essa aula. Não merecia mesmo passar no concurso. Desgraça pouca é bobagem.