Pedro Lucas Lindoso
Alguns não gostam do mês de agosto. Dizem que é o mês do
cachorro louco. Há quem diga que os romanos antigos já consideravam agosto um
mês azarento. Mas não se sabe bem o motivo. Há notícias de que muitas caravelas
partiam de Portugal nesse mês. E muitas se perdiam na imensidão dos mares nunca
dantes navegados.
Nunca acreditei nisso. Como não acredito no azar do número
13. Afinal, nasci em um dia 13. São bobagens. Superstição sempre nos leva a
temer coisas inócuas e depositar confiança em coisas absurdas.
Para mim, o mês de agosto tornou-se não um mês de desgosto,
mas um mês de saudades. Saudades do meu saudoso pai José Lindoso. É quando se
comemora o dia dos pais. Sua ausência nos entristece. Ele realmente faz uma
falta danada. Saudade sentida por todos que têm seus pais já falecidos.
Em agosto se comemora também o dia do advogado. José Lindoso
e seu sócio João Martins tinham uma das melhores e mais prestigiadas bancas de
advocacia de Manaus, na década de sessenta.
E para completar as saudades doídas, José Lindoso fazia
aniversário dia 21 de agosto. Meu pai nasceu em Manicoré, no rio Madeira, e
completaria 98 anos de idade neste 2018.
Descobri outro dia que o rio Madeira já foi chamado de
Caaiari. Meu pai era apaixonado pelo Madeira. Imagino o menino José observando
o rio que margeava o seringal de meu avô. Rio que o levaria de barco ainda bem
jovenzinho a Manaus.
Meu pai foi advogado brilhante, professor catedrático, secretário
de Educação, deputado, senador e governou o Amazonas. Mas para mim o mais importante
foi ter sido meu pai.
Chamávamos meu pai carinhosamente de Zecão. Gostava da
família, gostava de livros, de política, do rio Madeira e da cor amarela. E dos
ipês dessa cor.
Os ipês-amarelos florescem em agosto no cerrado do planalto
central, onde meu velho descansa em paz.
Sim, agosto é o mês dos ipês, principalmente dos amarelos. E um mês de
saudades. De muitas saudades.