João Bosco Botelho
A medicina no subdesenvolvimento, ainda continua empenhada,
com muita dificuldade, no estudo da morfologia celular, sempre alterada pela
desnutrição crônica e pelas doenças infectocontagiosas, dizimadoras de milhares
de crianças por ano.
Podemos afirmar, sem receio de estar cometendo um exagero,
que a medicina no terceiro mundo continua aperfeiçoando o diagnóstico da
morfologia dos tecidos, ainda ligado à microscopia celular e bacteriana,
oriunda do século 17. A maior parte das suas instituições de saúde estão
voltadas somente para o tratamento dos tumores e das infecções hospitalares já
instalados, sem dinheiro e tecnologia para pesquisar a causa dessas
doenças.
A tendência geneticista é a nova abertura aos conhecimentos
da medicina desde a micrologia seiscentista de Marcelo Malpighi (1628 1694).
Todas as certezas trazidas pelo conhecimento exclusivo da morfologia estão
sendo repensadas. Não avançar nesse rumo significa permanecer no conhecimento
contido no espaço hermético da doença já instalada, onde o olho clínico e o
diagnóstico microscópico (a biópsia) são as diretrizes maiores.
A medicina é na atualidade um grande trem caminhando velozmente
em direção aos laboratórios de estudo do genoma humano, com a saúde sendo
conduzida para a intimidade da estrutura molecular dos genes.
Esta posição, nascida com a pós modernidade, está rompendo
muitas fronteiras do homem com a linearidade do tempo organizado, onde é
impossível saber com precisão a diferença entre doença e saúde. O despertar
dessa consciência que floresce na descrença das certezas acabadas está muito
longe da simplicidade da morfologia celular e acaba compondo, inevitavelmente,
uma nova leitura da vida.
As notícias sobre a engenharia genética são cada vez mais
frequentes e completas, fazendo com que esse tema entre nas casas como o
anúncio de qualquer outro produto de consumo. A televisão mostra, com grande
destaque, as curas de certas doenças antes não imaginadas, tudo graças às
pesquisas reveladoras dos segredos dos genes.
Uma dessas notícias que dominaram a mídia internacional está
relacionada à atividade do gene S1c6a15, na área cerebral, ligada à depressão,
objeto de estudo dos pesquisadores do departamento de anatomia e neurobiologia
da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. A ação
desse gene nos neurônios de animais de experimentação interfere na manutenção
da vontade, para superar adversidades sociais que provocam grande estresse.
No futuro, substituindo verdades acabadas, até muito pouco
tempo, as resultantes dessa pesquisa substituirão alguns tratamentos das
depressões e abrirão caminhos para diminuir o incrível número de suicídios
anuais, no mundo, que ultrapassa 800 mil.