Amigos do Fingidor

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Depressão e genética: pós modernidade da medicina 2/2



 João Bosco Botelho


A medicina no subdesenvolvimento, ainda continua empenhada, com muita dificuldade, no estudo da morfologia celular, sempre alterada pela desnutrição crônica e pelas doenças infectocontagiosas, dizimadoras de milhares de crianças por ano. 
Podemos afirmar, sem receio de estar cometendo um exagero, que a medicina no terceiro mundo continua aperfeiçoando o diagnóstico da morfologia dos tecidos, ainda ligado à microscopia celular e bacteriana, oriunda do século 17. A maior parte das suas instituições de saúde estão voltadas somente para o tratamento dos tumores e das infecções hospitalares já instalados, sem dinheiro e tecnologia para pesquisar a causa dessas doenças. 
A tendência geneticista é a nova abertura aos conhecimentos da medicina desde a micrologia seiscentista de Marcelo Malpighi (1628 1694). Todas as certezas trazidas pelo conhecimento exclusivo da morfologia estão sendo repensadas. Não avançar nesse rumo significa permanecer no conhecimento contido no espaço hermético da doença já instalada, onde o olho clínico e o diagnóstico microscópico (a biópsia) são as diretrizes maiores. 
A medicina é na atualidade um grande trem caminhando velozmente em direção aos laboratórios de estudo do genoma humano, com a saúde sendo conduzida para a intimidade da estrutura molecular dos genes. 
Esta posição, nascida com a pós modernidade, está rompendo muitas fronteiras do homem com a linearidade do tempo organizado, onde é impossível saber com precisão a diferença entre doença e saúde. O despertar dessa consciência que floresce na descrença das certezas acabadas está muito longe da simplicidade da morfologia celular e acaba compondo, inevitavelmente, uma nova leitura da vida. 
As notícias sobre a engenharia genética são cada vez mais frequentes e completas, fazendo com que esse tema entre nas casas como o anúncio de qualquer outro produto de consumo. A televisão mostra, com grande destaque, as curas de certas doenças antes não imaginadas, tudo graças às pesquisas reveladoras dos segredos dos genes.
Uma dessas notícias que dominaram a mídia internacional está relacionada à atividade do gene S1c6a15, na área cerebral, ligada à depressão, objeto de estudo dos pesquisadores do departamento de anatomia e neurobiologia da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. A ação desse gene nos neurônios de animais de experimentação interfere na manutenção da vontade, para superar adversidades sociais que provocam grande estresse.
No futuro, substituindo verdades acabadas, até muito pouco tempo, as resultantes dessa pesquisa substituirão alguns tratamentos das depressões e abrirão caminhos para diminuir o incrível número de suicídios anuais, no mundo, que ultrapassa 800 mil.