Amigos do Fingidor

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Juruti – waku sese



Pedro Lucas Lindoso


Quando a Amazônia se chamava Grão-Pará, havia três cidades importantes na enorme região: Belém, situada no litoral, era a grande capital.  Santarém, na região do rio Tapajós, e nossa Manaus, capitaneando o majestoso rio Negro.
Fomos elevados à categoria de província e hoje Manaus é a grande capital do Amazonas. Infelizmente, nossos irmãos do Tapajós até hoje não conseguiram ficar independentes do Pará. Jamais faltou vontade e houve várias tentativas.
Santarém tornou-se muito conhecida ultimamente por conta de Alter do Chão. Mas o que muita gente não sabe é que na região do Tapajós tem uma cidade que se prepara para ficar tão ou mais famosa que Parintins. Não faltam por lá guerreiros valentes e belas cunhãs porangas. Falo da mimosa Juruti.
Se você curte um sambódromo e um bumbódromo, com certeza vai curtir o tribódromo de Juruti.
É no tribódromo de Juruti que acontece o TRIBAL – Festival de tribos de Juruti. É sempre no final do mês de julho, para não atrapalhar o festival de Parintins que é em junho. Esse ano, comemorou-se o bicentenário da cidade e o grande campeão foi a tribo dos Mundurukus. Em sua apresentação, os Mundurukus convidaram os povos da Amazônia, do Brasil e do mundo a reverenciar e retomar o ponto onde tudo começou. Uma época em que os caciques indígenas mandavam no mundo e o mundo era só a floresta.
Já os Muirapinima, que perderam por dois pontos (uma provável injustiça), reverenciaram a essência da vida dos povos sataré-mawé. Os sateré-mawé jamais se afeiçoaram aos portugueses. Davam ordens às suas mulheres que não aprendessem a nossa língua. Participaram ativamente da Cabanagem. Foram eles que transformaram o guaraná em arbusto cultivado, com o plantio e o beneficiamento dos frutos.
Praticam o ritual da tucandeira.  É o conhecido e assustador ritual de iniciação para a vida adulta. Ao enfiar as mãos em uma luva cheia de formigas durante aproximadamente vinte minutos, o menino não apenas demonstra estar apto para vida, mas também ganha respeito e admiração.
Há quem diga que esses povos guerreiros de grande resignação e audácia tem alguma ascendência dos incas e vieram do Altiplano andino até a Região do Tapajós, hoje também conhecida como Baixo Amazonas.
Já me considero torcedor da tribo dos Muirapinima, que parece ser a tribo do povão. Ano que vem vou ao festival de Juruti. Deve ser mesmo waku sese, que significa muito bom, em sateré-mawé.