Amigos do Fingidor

quinta-feira, 18 de abril de 2019

A poesia é necessária?



Eu não sei
Pollyanna Furtado


Eu não sei, mas deveria saber
que o ser humano pode saber tanto
e que, no entanto, de tudo que sabe,
não sabe o que realmente importa.

Eu não sei, mas deveria saber
que a ignorância é maior
do que o entendimento;
que a dúvida é sempre uma dádiva
quando a certeza absoluta nos cega.

Eu não sei, mas deveria saber
que a realidade não se resume
ao meu estreito conhecimento;
que se existe tanta divergência
é porque às vezes posso estar enganado.

Eu não sei, mas deveria saber
que eu não sou a medida de todos
e que, portanto, o que vale para mim
pode não valer para tantos outros.

Eu não sei, mas deveria saber
que se eu não sou medida dos outros,
também os outros não me são medida,
mas isso não significa desprezar
o princípio essencial que nos liga.

Eu não sei, mas deveria saber
que o meu ódio é o meu veneno;
que, com ele, mato supostos inimigos
e, pouco a pouco, também mato a mim mesmo.

Eu não sei, mas deveria saber
que se existe um Deus, esse Deus é Amor
e que o Amor é luz e comunhão divina
e nada nesta nossa vida, nada justifica
essa ânsia de ceifar outras vidas.