Pedro Lucas Lindoso
Apelido é como relógio antigo: se der corda, pega. Nós, amazonenses,
acho que até por razões inexplicáveis e culturais, gostamos de apelidar as
pessoas. Principalmente políticos.
Quem é gordinho é sempre apelidado de balão, bolinha ou
botijão de gás. O importante é não dar bola. Os altos e magros são varapaus. Os
baixinhos são tampinhas. Os muito brancos são macaxeira. E por aí vai. A
imaginação para apelidos é muito fértil entre os amazonenses.
Não se pode confundir apelidos com pseudônimos. Muito usados
em concursos literários e entre escritores. Os editais exigem o pseudônimo para
preservar a imparcialidade dos julgadores. Um amigo participou da banca de um
concurso literário na cidade. Houve nove candidatos que escolheram “curupira”
como pseudônimo. Todos desclassificados. Se o curupira faz os caçadores se
perderem na floresta, na cidade faz os escritores perderem concursos
literários.
A alcunha tem um valor depreciativo e é definida a partir de
uma característica particular, física ou moral. Já o codinome geralmente é para
designar disfarce ou nomes de subversivos. Vem do inglês “code name”. Aliás, na internet tem se usado também o
anglicismo “nickname”. Especialmente em sites de bate papo, visando o
anonimato.
Por falar em anonimato, não há artigo da Constituição Federal
mais violado do que o inciso IV do artigo 5º, pelo qual é livre a manifestação
do pensamento, sendo vedado o anonimato. Ora, em tempos de internet e “fake
news”, não se vê outra coisa do que acusações anônimas. A honra dos famosos,
políticos e celebridades é jogada na lata de lixo sem dó ou piedade.
Antigamente, os políticos e famosos eram vítimas de cartas
anônimas. O mundo não muda tanto assim. Como filho de político, vi minha mãe
indignada com essas cartas. Mau caratismo não surgiu com a internet. Podem
acreditar.
Os políticos e celebridades que se importam com apelidos e
sofrem muito com críticas devem deixar a vida pública. E, como Greta Garbo,
pedir para ser esquecido. Para ficar só.
Um deputado do PT chamou um ministro do atual governo de “tchutchuca”.
O ministro revidou. Deu corda. Não deveria. Como já disse, apelido é como
relógio antigo, se der corda, pega.