Pedro Lucas Lindoso
Enquanto na Europa é primavera, aqui no hemisfério sul
estamos no outono. Estação onde predominam as folhas secas. Os franceses chamam
essas folhas de folhas mortas. “Les Feuilles Mortes”. Nome de canção de Jacques
Prévert, imortalizada na voz de Yves Montand e de Edith Piaf. Essa canção e a
famosa “La Vie en rose” são a essência de Paris. Canções significativas da
cidade luz para muitos e por todo o mundo afora.
A tragédia que abateu Paris e o mundo nesta Semana Santa de
2019 nos deixa atormentados e melancólicos. Yves Montand e Edith Piaf já não
estão entre nós. São personagens do século passado. Mas ainda completamente
entranhados na memória dos franceses. Assim como daqueles que admiram a cultura
desses teimosos e relutantes gauleses. Desde os tempos imemoriais. Vejam estes
versos:
“Naqueles dias, a vida era bela,
E o sol mais quente do que hoje.
As folhas mortas coletadas com a pá.
Você vê, eu não me esqueci...”
E quem pode esquecer Paris? Nem mesmo aqueles que a conhecem
só de fotos e filmes.
Meditava na utilidade das folhas. Folhas secas para nós,
folhas mortas para os franceses. E aí pensei que aquelas folhas caíram não
porque eram inúteis e não prestavam mais. Elas caíram porque tinham dado a
vida.
Já os versos de “La vie en rose” são mais românticos e
remetem mesmo a uma vida mais cor-de-rosa.
Contudo, não se pode falar de ‘’chansoniers” sem mencionar
Charles Aznavour. Falecido em 2018, é o cantor francês mais popular do século
20. Ao longo de seus 80 anos, compôs clássicos como “La Bohème”, “She”, “Hier
Encore” e muitas outras músicas!
O que aconteceu em Paris foi uma triste tragédia. A música
nos inspira, mas também nos consola. É chavão, mas quem canta seus males
espanta.
Estamos na Semana Santa. Acreditamos que Ele nos deu a Sua
vida para nos salvar. Temos que acreditar que os valorosos e irredutíveis
gauleses vão reconstruir sua bela e majestosa catedral. Já há milhões de euros
em doações. A catedral de Notre Dame vai ressurgir das cinzas. Para gáudio de
toda a Humanidade.