Errei, sim
Zemaria Pinto
Manchou
o quê? Que conversa mais idiota. E o meu nome, como ficou? Antes, eu era a
amante; agora, sou a puta. O bar todo sabe quem eu sou, o que eu sou, o que
fizeram comigo e o que fiz em troca. Somos feitos todos com mesma lama, homens
e mulheres. Quem se digna a ficar trancada em casa em troca de comida diária, aluguel
mensal e bijuterias de vez em quando? Prefiro me virar. É muito mais divertido.
Quer saber? Se a vida fosse um grande parque de diversões, eu ia preferir a
montanha-russa ou pelo menos a roda-gigante. Nada de carrossel ou castelo de
princesa. No mais, é como dizia minha vó: quem tem uma tem uma; quem tem todas
não tem nenhuma. Garçom!
Errei, sim (1950), de Ataulfo Alves (Miraí-MG, 1909-1969).
Samba-canção.
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