Pedro Lucas Lindoso
Estou
preocupado com minha querida tia Idalina. Achei-a depressiva. Nunca tinha visto
titia tão triste. Disse-me estar cansada das restrições da quarentena.
Ficou
abalada por não ter havido o desfile de Sete de Setembro. Pela primeira vez, em
anos, deixou de ir à parada. Idalina é filha de ex-combatente da II Guerra. Tem
o maior orgulho. Diz sempre que ele colocou a vida em risco pela liberdade. Foi
para Itália no quarto escalão da FEB, em novembro de 1944.
Seu pai
desfilava todo dia 7 de setembro. Primeiro, aqui em Manaus, na avenida Eduardo
Ribeiro. Depois quando se mudaram para o Rio, no Aterro do Flamengo. Até
morrer. Idalina nunca perdeu um desfile.
Com o
cancelamento da parada por conta da pandemia, ficou desolada. Perguntou-me se
teria sido cancelada ou se foi adiada. Lembrou que alguns eventos tinham sido
adiados para novembro. Deviam fazer o desfile dia 15 de novembro, dia da
Proclamação da República.
Aconselhei
a titia a mandar sua ideia de fazer o desfile dia 15 de novembro para o Palácio
do Planalto. Mas acho pouco provável que seja aprovado. Aglomerações parecem
estar proibidas até o fim do ano.
Idalina
recordou o tempo em que ela também desfilava. Era aluna do Colégio Estadual
Pedro II. Foi baliza da banda do colégio. Lembrou-se de seu bastão, todo
enfeitado. Marchava à frente da banda com garbo, dança e beleza. Sua função era
atrair a atenção das pessoas para a maravilhosa banda do Colégio Estadual.
Idalina
apresentava-se com orgulho e simpatia. Depois corria para esperar seu pai
desfilar junto com os outros expedicionários, heróis da pátria.
O
cancelamento da parada abalou Idalina. A preocupação dela agora é se vão
cancelar a Missa do Galo. Outro evento anual que ela não perde. Reclamou que
nos últimos anos as missas são rezadas às 21.00 horas e não mais à meia-noite.
Disse-lhe
que na Catedral de Saint Patrick em Nova Iorque a missa é meia-noite. Chamada
de Midnight Mass. Muito disputada. Vamos reservar ingressos com antecedência.
Que tal passar o Natal em Nova Iorque? Fiz essa promessa para alegrar a titia.
É só o corona ir embora.
– Xô,
corona! exclamou Idalina.