Pedro
Lucas Lindoso
O pior
da quarentena não é ficar enfurnado em casa. Pelo contrário, até gosto muito.
Sinto falta do contato com amigos e de ir ao cinema. É verdade. Também me fazem
falta as confraternizações e reuniões nas diversas instituições das quais
participo. São associações de escritores, saraus literários, encontros no IGHA –
Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas.
E claro, as reuniões de família com a presença de filhos, genro, nora e
da minha netinha Maria Luísa.
Como
disse, não é ruim ficar em casa. Tenho uma rotina e estou em teletrabalho. Tenho escutado as pessoas dizerem que estão
em “home office”. Uso errado do anglicismo. Bem, eu estou em teletrabalho e
trabalhando de casa no meu escritório doméstico (home office). Nem todos têm
escritório em casa. Uns trabalham da sala, da cozinha ou mesmo do quarto. Em inglês
existem as palavras “telework” ou “remote”. Mas pouco usadas. Meus amigos
americanos me relatam durante a pandemia: “we are working from home”. Estamos
trabalhando de casa.
Outra
coisa boa da quarentena é ter mais tempo disponível para leitura. Atividade da
qual gosto muito. Mas o que eu sinto falta mesmo é de viajar. Estou lendo um
livro do italiano Antonio Tabucchi, chamado Afirma Pereira. Se passa em Portugal. Tabucchi adora viajar.
Teria dito ao Jornal de Letras de Lisboa, sobre o ato de viajar: “Mesmo que não
aconteça nada verificável, no plano do real, sempre favorece uma sucessão de
ideias, uma espécie de fantasia”.
Minhas
viagens também são sempre fontes de inspirações, de deleite, de exercícios de
imaginação e de fantasias.
Muitos
conhecem a frase de Fernando Pessoa – Navegar é preciso, viver não é preciso. A
interpretação mais festejada é aquela que entende que navegar é preciso, no
sentido de exatidão. Necessitamos de cálculos, de precisão. Já a vida é
imprecisa. Não podemos calcular nem predizer o futuro.
O
romano Plutarco teria dito: “Navegar é necessário, viver não é”. Pessoa teria
se inspirado na frase da obra “Vida de Pompeu”. O general romano incitava os
marinheiros temerosos em navegar, dizendo: ”navigare necesse, vivere non est
necesse”.
A genialidade de Fernando Pessoa está
justamente no jogo de palavras. Na minha interpretação pessoal gosto de
entender que navegar é necessário, mas viver também é necessário. Viver não é
preciso, no sentido de não haver precisão em calcular o futuro e as incertezas
que enfrentamos.
Enfim,
quero o fim da pandemia, porque viajar é preciso!