Amigos do Fingidor

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Nossa vida, mais amores

 

Pedro Lucas Lindoso

 

 

Em setembro, quando se comemora a elevação do Amazonas à categoria de Província, no dia 5, e a nossa independência de Portugal, no dia 7, não deixo de sentir um certo ufanismo. Mas sem excessos. Tenho sim, orgulho de ser brasileiro e de ser amazonense. Assim como de ter estudado e vivido na bela Brasília, capital desse imenso e contraditório Brasil.

Uma das grandes satisfações que tenho é pertencer ao IGHA – Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Ocupo a cadeira número 10, cujo patrono é Gonçalves Dias. Nesses dias de patriotismo aflorado, impossível não me lembrar de “Canção do Exílio", possivelmente a obra mais conhecida de Gonçalves Dias:

 “Minha terra tem palmeiras, onde canta o Sabiá; as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa vida mais amores... Não permita Deus que eu morra, sem que eu volte para lá; sem que eu desfrute os primores que não encontro por cá; sem qu'inda aviste as palmeiras, onde canta o Sabiá”.

A literatura essencialmente brasileira se inicia no Romantismo. Esse poema foi escrito nos meados do século 19. Gonçalves Dias encontrava-se em Portugal e sentia-se “exilado”. Expressa um evidente patriotismo romântico. E está eivado de sentimentos de saudades.

Estou me sentindo assim, também. Sinto-me meio que exilado dentro do meu país.  E com saudades. De um tempo em que meus conterrâneos eram tidos como “um povo cordial”. Se não de todo cordial, menos raivoso, pelo menos.

A razão disso é essa declarada divisão e guerra ideológica entre as pessoas. Entre amigos, familiares e colegas. Fiquei triste em saber que um grupo de canto coral em Brasília dissolveu-se. A maestrina e o patrocinador e dirigente do coral não conseguiram conciliar desavenças políticas e ideológicas. E acabaram com o coral.

Isso tudo é muito triste. É lamentável. Só me resta continuar evocando Gonçalves Dias. E, romanticamente, esperar que os brasileiros, em uníssono, possam voltar a acreditar que:

 “Nossos bosques têm mais vida; Nossa vida mais amores”.

 Estamos na semana da pátria. Pense nisso.