Pedro Lucas Lindoso
Em
setembro, quando se comemora a elevação do Amazonas à categoria de Província,
no dia 5, e a nossa independência de Portugal, no dia 7, não deixo de sentir um
certo ufanismo. Mas sem excessos. Tenho sim, orgulho de ser brasileiro e de ser
amazonense. Assim como de ter estudado e vivido na bela Brasília, capital desse
imenso e contraditório Brasil.
Uma das
grandes satisfações que tenho é pertencer ao IGHA – Instituto Geográfico e
Histórico do Amazonas. Ocupo a cadeira número 10, cujo patrono é Gonçalves Dias.
Nesses dias de patriotismo aflorado, impossível não me lembrar de “Canção do
Exílio", possivelmente a obra mais conhecida de Gonçalves Dias:
“Minha terra tem palmeiras, onde canta o
Sabiá; as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais
estrelas, nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa
vida mais amores... Não permita Deus que eu morra, sem que eu volte para lá;
sem que eu desfrute os primores que não encontro por cá; sem qu'inda aviste as
palmeiras, onde canta o Sabiá”.
A
literatura essencialmente brasileira se inicia no Romantismo. Esse poema foi
escrito nos meados do século 19. Gonçalves Dias encontrava-se em Portugal e
sentia-se “exilado”. Expressa um evidente patriotismo romântico. E está eivado
de sentimentos de saudades.
Estou
me sentindo assim, também. Sinto-me meio que exilado dentro do meu país. E com saudades. De um tempo em que meus
conterrâneos eram tidos como “um povo cordial”. Se não de todo cordial, menos
raivoso, pelo menos.
A razão
disso é essa declarada divisão e guerra ideológica entre as pessoas. Entre
amigos, familiares e colegas. Fiquei triste em saber que um grupo de canto
coral em Brasília dissolveu-se. A maestrina e o patrocinador e dirigente do
coral não conseguiram conciliar desavenças políticas e ideológicas. E acabaram
com o coral.
Isso
tudo é muito triste. É lamentável. Só me resta continuar evocando Gonçalves
Dias. E, romanticamente, esperar que os brasileiros, em uníssono, possam voltar
a acreditar que:
“Nossos bosques têm mais vida; Nossa vida mais
amores”.
Estamos na semana da pátria. Pense nisso.