Amigos do Fingidor

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Curso de Arte Poética

Jorge Tufic


                   Diante de alguns impasses que mudaram os focos de leitura, chegamos a considerar que a única saída para o consumo imediato de poesia, segundo a teoria PROCESSO, com “a técnica já criando nova linguagem universal”, é a semiótica. Aqui, a funcionalidade informacional “é mais importante do que a funcionalidade estética”; e o fato de encarar ou não os objetos-poema como poesia, torna-se uma questão secundária ante a eficiência de construir sempre novas estruturas baseadas em cada nova experiência. “O poeta procura letras nos objetos”, escreve Wladimir Dias-Pino, em cujo livro, “Processo: Linguagem e Comunicação”, divulga as inúmeras opções e/ou operações de montagem dialética, aproveitando, com isso, um vasto laboratório de consumo e codificações extraídas ao cotidiano, prosaico ou poetizável. Decerto foi este o último movimento de vanguarda na poesia brasileira, projetando-se além do ideograma dos concretistas e do pop. Numa só frase: “o lúdico transformando em didático/consumo popular.” 

                   Considerar, acreditar, para entender. Em última análise, há um longo caminho percorrido entre a inquietação lógico-verbal e o poema visual, gustativo, manipulado ou descartável. Os intervalos de crise dizem menos respeito à poesia do que ao suporte. As artes plásticas nos dão este exemplo, guardadas as devidas proporções. Pois é na poesia que o vivente das coisas se depara com maior desafio, quando a maioria dos recursos tradicionais foram praticamente exauridos no uso e no abuso da imagética, na orgia embriagadora de que pouco se aproveita no cômputo geral. Para nós, contudo, desde que a poesia não seja o assunto do poema, nem deixe transparecer, tanto quanto possível, dicotomia com a prosa, distinguindo-se desta pela crispação daqueles significados paralelos de que nos falam os semiólogos, qualquer forma utilizada pelo poeta deve ser respeitada e avaliada pela crítica. Afinal de contas não será a palavra, o logos, a única alternativa de sobrevivência na voragem de um mundo racionalmente explicado?