Amigos do Fingidor

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Jorge Tufic

IV - ARTE POÉTICA (do “biotipo” ao mágico)
 

                   Rainer Maria Rilke teria sido o último “biotipo” de poeta, segundo um modelo contemplativo zelosamente recortado daquela Europa de fins do século XIX, quando o tropo da rosa adquire força total, em oposição à máquina do progresso e do barulho. Mas nada parece constar a esse respeito desde Homero aos românticos ocidentais, e destes ao parnasianismo. Do romantismo, no Brasil, ficara o protótipo Castro Alves – gravata de nó saliente, bigode afilado e torcido nas pontas, cabeleira farta, perfil apolíneo –, como do parnasianismo ficara Bilac. Tanto um quanto o outro espelhando, na descontenção e na contenção dos gestos, a marca registrada de sua escola. Não há, contudo, registro oficial de um biotipo exato de poeta; e mesmo Nero, empunhando e dedilhando pateticamente a lira – este símbolo clássico da Poesia – não conseguiu mais do que o ridículo de atiçar contra Roma o fogo sagrado dos deuses.

                   O poeta simplesmente é. Ele nunca se define por obra de um biotipo qualquer, por circunstância de um protótipo (que no mínimo pode simbolizar uma escola) ou por uma escritura de versos, ou seja lá por que meio ou forma de comunicação verbal ou não-verbal se faça representar em sua breve ou prolongada travessia. Quanto ao modo particular de vestir, alguns deles, no propósito majestoso de lançarem moda ou apenas se distinguirem dos outros, criam seu próprio traje, o qual, em última análise, servirá unicamente para identificar a pessoa, a menos que ela ostente um decalque onde se leia o conteúdo da embalagem. Entre simbolistas e dadaístas franceses, essa “extravagância” chegou mais longe, com a retórica do cágado e dos cabelos pintados de vermelho. Mas tudo era feito com o só propósito de atrair curiosos.