Jorge Tufic
IV
- ARTE POÉTICA (do “biotipo” ao mágico)
Rainer
Maria Rilke teria sido o último “biotipo” de poeta, segundo um modelo
contemplativo zelosamente recortado daquela Europa de fins do século XIX,
quando o tropo da rosa adquire força
total, em oposição à máquina do progresso e do barulho. Mas nada parece constar
a esse respeito desde Homero aos românticos ocidentais, e destes ao
parnasianismo. Do romantismo, no Brasil, ficara o protótipo Castro Alves –
gravata de nó saliente, bigode afilado e torcido nas pontas, cabeleira farta,
perfil apolíneo –, como do parnasianismo ficara Bilac. Tanto um quanto o outro
espelhando, na descontenção e na contenção dos gestos, a marca registrada de
sua escola. Não há, contudo, registro oficial de um biotipo exato de poeta; e
mesmo Nero, empunhando e dedilhando pateticamente a lira – este símbolo
clássico da Poesia – não conseguiu mais do que o ridículo de atiçar contra Roma
o fogo sagrado dos deuses.
O
poeta simplesmente é. Ele nunca se define por obra de um biotipo qualquer, por
circunstância de um protótipo (que no mínimo pode simbolizar uma escola) ou por
uma escritura de versos, ou seja lá por que meio ou forma de comunicação verbal
ou não-verbal se faça representar em sua breve ou prolongada travessia. Quanto
ao modo particular de vestir, alguns deles, no propósito majestoso de lançarem
moda ou apenas se distinguirem dos outros, criam seu próprio traje, o qual, em
última análise, servirá unicamente para identificar a pessoa, a menos que ela
ostente um decalque onde se leia o conteúdo da embalagem. Entre simbolistas e
dadaístas franceses, essa “extravagância” chegou mais longe, com a retórica do
cágado e dos cabelos pintados de vermelho. Mas tudo era feito com o só
propósito de atrair curiosos.