Pedro Lindoso
O que mais o carioquíssimo Seu Jorge desejava na vida
era ter um filho homem, torcedor do Flamengo e empregado de uma grande
companhia de petróleo. Jorginho nasceu no dia 23 de abril, dia de São Jorge.
Foi uma alegria geral na família. Mais um motivo, e dos grandes, para o garoto
ser batizado de Jorge. Além de merecer o nome do pai, o garoto nasceu no dia do
santo guerreiro, soldado romano e padroeiro da cidade maravilhosa do Rio de
Janeiro. Há controvérsias. Para alguns, o padroeiro é São Sebastião. Mas para a
família de Jorginho, o padroeiro da cidade é mesmo São Jorge e ponto final.
Inclusive é feriado nesse dia, para que não haja dúvidas, com todo respeito ao
glorioso São Sebastião. Jorginho não decepcionou. Já no primeiro aninho de vida
ganhou uma camisa do Flamengo, guardada como relíquia até hoje. Formou-se em
química e passou no concurso para a petrolífera. Além de flamenguista e
trabalhar na petrolífera casou-se com uma nega chamada Teresa. Isso já deu até
samba, diz ele todo orgulhoso. Seu Jorge ri de satisfação com os feitos do
filhão. Jorginho fez amizade com um engenheiro, no trabalho, que se chama
Máximo. Pegam o metrô juntos todos os dias. Máximo é carioca e também morador
de Copacabana. Jorginho convidou-o para uma feijoada no dia 23 de abril, pelo
seu aniversário. Máximo agradeceu. Já tinha um compromisso. Depois descobriu-se
que Máximo detestava feijoada e não suportava um pagodinho dos bons. Certa
feita, Jorginho convidou Máximo para um vôlei na praia. Sua turma tinha rede e
tudo. Como Máximo tinha porte atlético, poderia ser um bom jogador. De fato, o
porte atlético do colega era em razão de uma ginástica sueca, feita diariamente
na varanda de seu apartamento. Máximo não suportava praia, nem sol. E para ele,
essa história de carioca aplaudir o pôr do sol no Arpoador é uma grande tolice.
Jorginho discordava do amigo peremptoriamente. No Carnaval, Máximo recusou o
convite para ir a todas as bandas da cidade. A rádio corredor da petrolífera
noticiou que Máximo teria ido passar o carnaval em Curitiba. Jorginho sabia que
o amigo não era flamenguista. Pensava que o colega fosse vascaíno, mas como não
se falava sobre futebol, nem samba, nem praia, deixou para lá. Só não pôde
acreditar na ideia inusitada do colega Máximo. Pediu demissão da petrolífera
para trabalhar, por conta própria, em Belo Horizonte, onde não conhecia ninguém
e nem tinha parentes por lá. Seu Jorge, o pai, não conseguia acreditar. Máximo
foi embora para Belo Horizonte e não deu o endereço para ninguém, nem para o
Jorginho, seu melhor amigo na petrolífera. No último dia de trabalho de Máximo,
Jorginho descobriu que o colega, nascido e criado no Rio de Janeiro não era
vascaíno, nem torcia para o Fluminense, nem para o Botafogo, nem tampouco para
o Bangu. O Máximo era corintiano! Para o velho Seu Jorge, a ideia do rapaz de
abandonar o Rio de Janeiro não tinha nada de “máximo”. Era, no mínimo,
muito absurda. Seria ele o E.T. de Copacabana, sobre o qual tinha lido outro
dia no jornal?