Amigos do Fingidor

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Olhar de viés


Clara Nihil

Nomes, nomes, nomes


Estimulada (ui!) pelo Pedro Lindoso, que postou neste espaço um interessante texto sobre o “que há num nome”, resolvi lançar meu olhar de viés sobre o tema. Mas não quero falar de nomes esdrúxulos, como Raiovaque, ou apenas cacofonicamente ridículos, como Rebecca Garcia ou Mônica Gomes. Vou falar de nomes comuns, conhecidíssimos, que, no entanto, soam estranhos. Nomes que passaram por mim, causando espanto – como é mesmo seu nome? –, mas que no fundo eram nomes comuns. Apenas estranhos...

Trabalho numa empresa do DI, logo no RH, e entre minhas muitas atribuições está a de entrevistar os pretendentes ao regime de semiescravidão. Não tenho problemas de audição, muito pelo contrário, os exercícios com a flauta doce, mero diletantismo, assim como a poesia, aperfeiçoaram minha capacidade de ouvir bem. Mas, inevitável, de vez em quando me flagro perguntando “como é seu nome mesmo?”. 

E você não se espantaria com um cara com pegada de Anderson Silva dizer que seu nome é Beethoven? E escrito bonitinho, com todos os és e agás. Não resisto: – Músico? Resposta bonachona: – Quem dera... Analista de sistemas...

Uns dias trás, eu li uma notícia num jornalzinho barato de MAO, a respeito de um concurso de artes bovinas, em PIN. O vencedor: Marlon Brandão! Não contive a euforia: os dois nomes separados não queriam dizer absolutamente nada. Mas juntos... Era demais: a foto de Marlon Brandão mostrava um caboco típico, criado com chibé e leite de castanha. Ali, pelo menos, parecia o oposto do gênio do Actors Studio: acobreado, jeito fanfarrão e bem-humorado, do tipo que fala alto o tempo todo, anunciando ao mundo a sua chegada.

Mas, voltemos ao meu cubículo-consultório. Pernas arqueadas, os dois braços fazendo um ângulo de 45º graus em relação ao tronco, parece que ele vai sacar os dois colts 45 que traz à cintura, ao mesmo tempo. Parou no meio da sala e me olhou por três segundos, o tempo para eu despertar daquele devaneio. Sente-se, por favor. Seu nome? – Djeique Doglas. Você pode repetir? – Djeique: j, a, k, e; Doglas: d, o, g, l, a, s. O meu devaneio inicial tinha tudo a ver: Jake Doglas era a encarnação de um velho pistoleiro. BANG!

Agora esta é séria. Não, vocês não vão acreditar, mas eu juro que estou contando a verdade. Seleção para a área de tornearia. Numa mesma manhã, dois nomes antológicos. As figuras eram absolutamente esquecíveis. Tipo padrão de parada de ônibus às seis da tarde: todo mundo tem a mesma cara de infelicidade. ­– João Leno. Gaguejo: Jo-ão... Le-no? – Sim, senhora. Eu não cabia em mim de tanta felicidade por conhecer um nome tão simples, meigo e original, no meio de tantos Maicons, Jeimys, Carolaines e Daianes. Umas cinco fichas depois: – Paulo Saimon. Sofri uma leve vertigem, o suficiente para me jogar no chão se não estivesse sentada. Paul Simon?! – Não, senhora: Paulo Saimon. Em português mesmo. A senhora gosta dele? Do Paul Simon? A-DO-RO! Ficamos amigos. Melhor dizendo, amigas, se é que me entendem...

Teria uma dezena de nomes bacanas, mas vou parar por aqui, lembrando o último espanto: ­– Shekespeare. Shakespeare? – Não, senhora, o sinhozinho do cartório não conhecia o bardo e botou um e no lugar do a: Shekespeare. Menos mal, já pensou se ele aportuguesasse para Shequespire? – Pior se fosse com X. É, pensando bem, seria bem pior...