Clara Nihil
Nomes, nomes, nomes
Estimulada
(ui!) pelo Pedro Lindoso, que postou neste espaço um interessante texto sobre o
“que há num nome”, resolvi lançar meu olhar de viés sobre o tema. Mas não quero
falar de nomes esdrúxulos, como Raiovaque, ou apenas cacofonicamente ridículos, como Rebecca
Garcia ou Mônica Gomes. Vou falar de nomes comuns, conhecidíssimos, que, no entanto, soam
estranhos. Nomes que passaram por mim, causando espanto – como é mesmo seu
nome? –, mas que no fundo eram nomes comuns. Apenas estranhos...
Trabalho
numa empresa do DI, logo no RH, e entre minhas muitas atribuições está a de
entrevistar os pretendentes ao regime de semiescravidão. Não tenho problemas de
audição, muito pelo contrário, os exercícios com a flauta doce, mero
diletantismo, assim como a poesia, aperfeiçoaram minha capacidade de ouvir bem.
Mas, inevitável, de vez em quando me flagro perguntando “como é seu nome
mesmo?”.
E
você não se espantaria com um cara com pegada de Anderson Silva dizer que seu
nome é Beethoven? E escrito bonitinho, com todos os és e agás. Não resisto: –
Músico? Resposta bonachona: – Quem dera... Analista de sistemas...
Uns
dias trás, eu li uma notícia num jornalzinho barato de MAO, a respeito de um
concurso de artes bovinas, em PIN. O vencedor: Marlon Brandão! Não contive a euforia:
os dois nomes separados não queriam dizer absolutamente nada. Mas juntos... Era
demais: a foto de Marlon Brandão mostrava um caboco típico, criado com chibé e
leite de castanha. Ali, pelo menos, parecia o oposto do gênio do Actors Studio:
acobreado, jeito fanfarrão e bem-humorado, do tipo que fala alto o tempo todo,
anunciando ao mundo a sua chegada.
Mas,
voltemos ao meu cubículo-consultório. Pernas arqueadas, os dois braços fazendo
um ângulo de 45º graus em relação ao tronco, parece que ele vai sacar os dois
colts 45 que traz à cintura, ao mesmo tempo. Parou no meio da sala e me olhou
por três segundos, o tempo para eu despertar daquele devaneio. Sente-se, por
favor. Seu nome? – Djeique Doglas. Você pode repetir? – Djeique: j, a, k, e;
Doglas: d, o, g, l, a, s. O meu devaneio inicial tinha tudo a ver: Jake Doglas
era a encarnação de um velho pistoleiro. BANG!
Agora
esta é séria. Não, vocês não vão acreditar, mas eu juro que estou contando a
verdade. Seleção para a área de tornearia. Numa mesma manhã, dois nomes
antológicos. As figuras eram absolutamente esquecíveis. Tipo padrão de parada
de ônibus às seis da tarde: todo mundo tem a mesma cara de infelicidade. –
João Leno. Gaguejo: Jo-ão... Le-no? – Sim, senhora. Eu não cabia em mim de
tanta felicidade por conhecer um nome tão simples, meigo e original, no meio de
tantos Maicons, Jeimys, Carolaines e Daianes. Umas cinco fichas depois: – Paulo
Saimon. Sofri uma leve vertigem, o suficiente para me jogar no chão se não
estivesse sentada. Paul Simon?! – Não, senhora: Paulo Saimon. Em português
mesmo. A senhora gosta dele? Do Paul Simon? A-DO-RO! Ficamos amigos. Melhor
dizendo, amigas, se é que me entendem...
Teria
uma dezena de nomes bacanas, mas vou parar por aqui, lembrando o último
espanto: – Shekespeare. Shakespeare? – Não, senhora, o sinhozinho do cartório
não conhecia o bardo e botou um e no lugar do a: Shekespeare. Menos mal, já
pensou se ele aportuguesasse para Shequespire? – Pior se fosse com X. É,
pensando bem, seria bem pior...