Tainá Vieira
“Oi,
querida!”, tu me saudavas quando eu chegava à Fundação. Beijava-me a mão e
sorrias. Eu te levava sempre o jornal e algumas peras. Sentada à beira da tua
cama, ficava ouvindo as historias que tu contavas. Ria muito e aprendia mais ainda.
No teu encontro com o Che Guevara, ele te xingou de pequeno burguês. Pelo teu
jeito, tu devias o estar contrariando.
E tua viagem a Paris, contaste-me que um dia estavas tomando um
cafezinho num bistrô bem aconchegante, falavas tão bem o francês, que o dono
perguntou de que região da França tu eras. E como tu sempre gostavas de te
exibir, deste o nome de uma cidadezinha de lá e ele acreditou. Pareço ouvir
agora as tuas gargalhadas contando essas histórias. Essas e tantas outras. Eu
não gostava daquele lugar, não era lugar para ti. Toda vez que ia lá era um
sofrimento para mim. E quando a visita acabava era pior ainda, pois talvez no
outro dia, eu não o visse mais me saudando ao chegar. Enfim, foste embora. Partiste
para um lugar distante?! Talvez! Mas para onde foste? Para o sol? Gostavas de
sol, Luiz? Estás no alto de uma montanha? Contando as estrelas? Ou
desenvolveste a escultura? E és tu o escultor das obras magníficas feitas em
nuvens, que eu vejo todos os dias, no céu?...Ah, Luiz, já sei. Encontrastes o
Che, fizeram as pazes e agora ele é teu discípulo... Sorte dele, que te tem.
Quanto a mim, não mais ouvirei “oi, querida!”.