Amigos do Fingidor

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Arqueologia da doença: macro e micro dimensão


 
João Bosco Botelho
 
 
            A principal diferença entre a prática médica oficial (autorizada pelo Estado), a empírica (resultante do conhecimento historicamente acumulado) e a divina (estruturada na fé de que a matéria, viva ou inerte, pode ser modificada pela ação divina) está assentada no fato de que a Medicina oficial molda o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento sobre propostas teóricas.
 
               Esse conjunto histórico apresenta três momentos (ou cortes epistemológicos, na linguagem de Bachelard):
 
1.    A Teoria dos Quatro Humores elaborada pela Escola Médica Cós, da Grécia, há 2400 anos. A compreensão da morfologia da doença recebeu a dimensão do corpo. Nessa época, pela primeira vez, a doença recebeu abordagem fora do domínio transcendente da divindade;
 
2.   No século 17, quando a doença saiu do corpo para a microestrutura celular, pelos estudos de Marcelo Malpighi (1628‑1694). Estava iniciado o pensamento micrológico. Os hospitais dos países subdesenvolvidos, mesmo realizando transplantes, continuam executando a Medicina de Malpighi;
 
3.   No século 19, a genética do frade agostiniano Gregor Mendel (1822‑1844), impulsionou a passagem da estrutura celular para a molécula e inaugurou a mentalidade molecular. O fruto final deverá ser a completa compreensão dos genes, não só a simples identificação gênica do projeto Genoma. Apesar da extraordinária importância, o projeto genoma só mapeou os nossos genes, muito distante da futura compreensão de como eles funcionam inter-relacionados com a diversidade dos seres viventes.
 
            Mesmo com os avanços da melhor compreensão da morfologia da doença, na macro e na micro dimensão, obtidos em pouco mais de dois mil anos de história, o médico sofre, no cotidiano, incontáveis dúvidas. Sem poder empurrar os limites do sofrimento fora de controle e da morte prematura, notadamente, nos cânceres e nas patologias imunomoduladas, mesmo baseados nas publicações científicas, repetem os tratamentos que oferecem melhores resultados sem oferecerem respostas satisfatórias.
 
            Essa é uma das grandes sagas da inteligência humana: continuar empurrando os limites da vida a partir do desvendar da arqueologia da doença!
 
            Como o conhecimento atual já domina parte da estrutura atômica, muito além da molécula, é claro supor que esse será o caminho da busca da origem da doença nos próximos séculos (já lastimo que não poderei testemunhar): a busca da cura entre os átomos. Sem dúvida, representará para a ciência o quarto corte no conhecimento da Medicina. É possível que teremos muitas respostas que continuam inquietando a Medicina oficial: muitas formas de cânceres e doenças autoimunes que continuam ceifando incontáveis vidas, mesmo usando toda a tecnologia disponível.
 
            Por outro lado, existem questões muito importantes não resolvidas que interligam as Medicinas oficial e divina. Existiriam, realmente, pessoas com poderes excepcionais – dom – suficientes para curar pessoas, isto é, mudar a estrutura da matéria viva fora de todas as leis físicas que regem o universo?