João
Bosco Botelho
Com
a consolidação do sedentarismo, no Neolítico, entre 10.000 e 5.000 anos a.C.,
importantes modificações foram se processando nos grupos sociais que habitavam
a Mesopotâmia e o Egito. Essas sociedades iriam absorver parte da experiência
acumulada em 500.000 anos de História, desde o aparecimento do Homo Sapiens.
Nessa
fase, teve início a modificação da economia produtiva em nível de subsistência
coletiva para uma concreta divisão de trabalho, como aparecimento de excedente
de produção e das trocas comerciais.
As
sociedades mostravam-se francamente hierarquizadas. Apareceu a propriedade privada,
possibilitando o processo de assentamento duradouro, que evoluiu para a organização
das primeiras aldeias. Este aldeamento estratificado é encontrado em torno de
5.000 anos a.C.
As
cidades formaram-se como produto da transformação e fortalecimento dos grupos humanos,
ao mesmo tempo que as sociedades arcaicas se estruturavam social e
politicamente, processando-se assim as modificações que dariam início ao
aparecimento das civilizações regionais.
Entre
elas, destacaram-se pela ocupação territorial e poder de guerra: a suméria,
egípcia, cretense, fenícia , arcádica, babilônica e assíria, que iriam decididamente
influenciar, direta e indiretamente, o pensamento ocidental.
Estas
civilizações regionais formaram e assimilaram ao longo das suas consolidações,
diferentes formas de governos, predominando o teocrático e mercantil-escravista,
que teriam, de diferentes formas, moldado a ação médica às conveniências do
poder.
As
guerras foram frequentes e contínuas, oferecendo como produto final dos saques
novos escravos e territórios, fortalecendo a propriedade privada e a escravidão.
Certamente, durante os conflitos, houve participação ativa dos médicos e
progressos na Medicina, principalmente no manuseio das grandes feridas traumáticas
e amputações cirúrgicas dos membros dilacerados.
Os
metais fundidos, o cobre, a mecanização da agricultura, o barco a vela e o uso
comum do ferro são fatos que contribuíram para aumentar as trocas do excedente
da produção, fortalecendo a maior especialização da sociedade.
O
corpo humano começa a ser manuseado nos rituais de sacrifício religioso e na
conservação do corpo após a morte. É neste contexto que já existe a distinção
entre médico e cirurgião.
A
atividade médica deveria ser intensa e diferenciada nos vários extratos sociais
para dar origem a querelas e atritos frequentes. Sabe-se que o Rei Hammurabi
(1728-1688 a.C.), da Babilônia, dedicou vários parágrafos do seu famoso código
para disciplinar o exercício da Medicina, onde se lê:
. 218
– Se um médico fez em um awilum
(homem livre em posse de todos os direitos de cidadão) uma incisão difícil com
uma faca de bronze e causou a morte do awilum
ou abriu o nakkaptum (arco acima da
sobrancelha) de um awilum com uma
faca de bronze e destruiu o olho do awilum:
eles cortarão a sua mão;
. 219
– Se um médico fez uma incisão difícil com uma faca de bronze no escravo de muskenum (intermediário entre o awilum e o escravo) e causou a sua
morte: ele deverá restituir um escravo como o escravo morto.
. 220
– Se ele abriu a nakkaptum de um
escravo com uma faca de bronze e destruiu o seu olho: ele pagará a metade do
seu preço.
Com
isto, o Código de Hammurabi formou jurisprudência com dois pontos cruciais da ordem
médica: as sanções que devem receber os médicos pela imprudência, imperícia e
negligência e os honorários médicos diferenciados pelo atendimento de diversos
grupos sociais.
Entre
as substâncias utilizadas pelos médicos assírios-babilônicos estão relacionadas:
a beladona, o óleo de rícino, o gengibre, a hortelã, a romã e a papoula. Muitas
delas continuam sendo utilizadas até hoje.
Nesta
fase do desenvolvimento das cidades-reinos, foram introduzidas importantes medidas
sanitárias nas cidades, como a construção das redes de esgotos e abastecimento
de água potável, de fazer inveja às periferias urbanas do nosso Brasil.