Amigos do Fingidor

terça-feira, 13 de agosto de 2013

As acontecências da malfadada Ponta Negra



David Almeida

 

“Em rio que tem piranha jacaré nada de costas”. “Em praia que tem jacaré, ninguém mergulha ou frequenta”. Não rimou, mas essa é a realidade vivenciada pela nossa mais famosa área de lazer: a malfadada praia da Ponta Negra.

Cartão postal da Cidade, ultimamente, a Ponta ficou mais Negra ainda, depois das tragédias de que foi palco, muitos personagens terminaram por ali. A praia continua vazia e vai continuar por muito tempo, enquanto os jacarés povoarem as águas do rio Negro e as cabeças dos banhistas. Os donos das barracas estão insatisfeitos, suas vendas caíram quase 100% por causa da estória dos jacarés, eles chegam ao ponto de dizer que alguém inventou tudo isso pra preservar a Praia, porque nunca viram nada.

Ninguém se arrisca em dar um mergulho e boiar de cara com um jacaré açu. Essa espécie de anfíbio pode chegar até a cinco metros de tamanho, e, como um liquidificador pré-histórico, tem um giro mortal rasgando, estraçalhando a sua presa. Ele não mastiga, mas morde, gira e engole. Alguém se habilita em dar um mergulhozinho nessa praia?

Tanto dinheiro público gasto em sua reforma, a ver navios, digo: a ver jacarés famintos, moribundos e solitários, querendo se aquecer na areia, ao sol da sua solidão. Mas, me pergunta o jornalista Mário Dantas: – a solidão não é fria? Eu respondo: – depende em qual estação ela aparece, como praia está ligada a sol, a gente pensa logo no verão, e os jacarés, “tadinhos dos bichinhos”, têm sangue frio, só aparecem para aquecerem-se ao sol, sem intenção nenhuma, então, nesse caso, a solidão da malfadada Ponta Negra é quente. Como quentes são as noticias sobre ela.

“Ponta Negra cinza quase azul”, diz a letra da musica do meu amigo compositor, poeta e artista plástico Arnaldo Garcez. Ah, meu amigo Arnaldo, na atual conjuntura em que esse espaço se encontra, entre buracos dissimulados, jacarés, e, ao preço de um real para as necessidades fisiológicas de seus frequentadores em seu banheiro, a sua Ponta Negra cinza quase azul, está mais cinza do que nunca.

O que eu não entendo é como um espaço feito com dinheiro público, para o público, pode cobrar para ir ao banheiro? Está escrito na porta do banheiro da malfadada Ponta Negra com catraca, borboleta e tudo, a seguinte frase: “banheiro terceirizado, um real”. Aí, o sujeito, que precisa ir ao lugar várias vezes, por estar com problemas intestinais, vai ter que levar no bolso muita grana, ou então vai fazer suas necessidades nas águas do Rio Negro, o que é pior. E se a onda pega? Já pensou se começarem a terceirizar os banheiros das instituições públicas? Com certeza, as ruas, os postes, as esquinas, qualquer espaço que servir para tirar a água do joelho vai pagar o pato, e a nossa querida Manaus vai ter seu cheiro característico. Ó, eu acho que o povo já paga muita coisa, ganhando pouca coisa.

E, ainda mais agora, com esses jacarés azarando a vida dos que buscam a tranquilidade, lazer, a renovação das energias, naquela praia, para começar a semana com todo o gás.

O que diria, se estivesse vivo, o Professor Gilberto Mestrinho, sobre esses jacarés?

Gente, precisamos de um super-herói, para “desterceirizar” todos os banheiros públicos, tirar os jacarés das praias, acabar com a malfadada Ponta Negra, e trazer de volta a Ponta Negra cinza quase azul. Talvez, quem sabe... nas próximas eleições surja esse super-herói, advindo de um desses programas de televisão, que ajudam pobre a ficar mais pobre ainda, “né”?