Amigos do Fingidor

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Sob a concha da panacarica – estudo 1/8



Zemaria Pinto*

 

Informação biográfica


 

Almir Diniz de Carvalho nasceu no Cambixe, município do Careiro, Amazonas, a 06 de novembro de 1929. É bacharel em Direito e jornalista, tendo iniciado carreira na imprensa  em 1947.  

Entre outros prêmios como jornalista, venceu, em 1956, o Prêmio Esso de Reportagem Norte-Nordeste, com a matéria “Borracha: dinheiro, sangue e miséria”.

Exerceu diversos cargos públicos, dentre eles o de Prefeito do Careiro.

Dedicado aos afazeres cotidianos, especialmente do jornalismo, somente aos 67 anos Almir Diniz resolveu abrir sua gaveta de guardados.

 


Obras publicadas


 

. Encontros com a natureza (poesia - 1996)

. Caminhos da alma (poesia - 1996)

. Corpo de mulher (poesia - 1996)     

. Andanças poéticas (poesia - 1997)

. O pitoresco e o hilariante na imprensa (crônica - 1997)

. Os deuses (poesia - 1998)

. Sob a concha da panacarica (contos - 1999)

 

Análise da Obra

 

Considerações iniciais


 

Sob a concha da panacarica é um livro de contos, de histórias curtas que, obedecendo à estrutura do gênero, têm como objetivo a solução de um só conflito, que é a sua célula dramática.

Assim, lembremos as características essenciais do conto:

.  uma única ação principal;

.  número mínimo de personagens;

.  unidade de tempo;

.  unidade de espaço;

.  foco narrativo em  1ª ou 3ª pessoa, sobressaindo-se o diálogo.

Além disso, podemos classificá-lo, de acordo com a ação desenvolvida ou o espaço onde transcorre, em urbano, regionalista, psicológico, social, dentre outros.

 


Estrutura narrativa - Resumos


 

Sob a concha da panacarica é um livro constituído por dezenove contos, diversos entre si, havendo algumas poucas semelhanças, mas que nos permitem separá-los em blocos. Assim, de acordo com a estrutura narrativa que apresentam, os contos foram divididos em quatro blocos: ao primeiro bloco foram agrupadas as narrativas que possuem um tom rememorativo; ao segundo, as histórias cujas cenas apresentam-se numa sequência simples, linear, em frente ao leitor; ao terceiro, os contos que possuem uma declaração inicial, uma explicação; e ao quarto, um conjunto unitário, uma narrativa cujo foco apresenta-se em 1ª pessoa.

 

1 – Contos em tom rememorativo

 

Os nove contos relacionados neste primeiro bloco, apresentam alguns pontos em comum: um resumo de acontecimentos anteriores à ação principal; diálogos, por vezes, em forma de monólogo interior; foco narrativo em 3ª pessoa.

Sob a concha da panacarica - Rosinha é a jovem esposa do endinheirado Maurício. Entediada, em uma viagem no reboque da lancha Ituí, lembra um sedutor que conhecera há dois anos, Roberto. A lembrança apresenta-se como uma preparação para o presente: Roberto aparece novamente, consuma-se a traição  “sob a concha da panacarica”; Maurício, que preparara a cilada, mata o sedutor; Rosinha sente-se liberta, pela consumação do ato sexual, do desejo que a sufocara por dois anos, e, sem saber que o marido é o responsável pelo desaparecimento do atravessador,  terá um casamento feliz, pois:

 

De repente sentiu que se livrara da obsessão que se intercalava entre eles. E descobriu que amava seu dedicado companheiro.

 

O ambiente, ilustrado pelo meio de transporte fluvial, deixa margem para classificarmos o conto como regionalista, uma vez que aborda aspectos típicos, ou seja, usos e costumes de uma região.

A última pesca – Armando sua pescaria, Eugênio, em plena crise conjugal,  relembra o início do amor pela mulher, Regina. Revigorado pelas lembranças, que servem como introdução para a ação principal do conto, deixa a pescaria e volta correndo para casa, na esperança de poder ainda salvar seu casamento. Perde a razão ao encontrar a mulher com outro, na cama. A morte dos amantes é anunciada apenas pela referência à faca de cozinha. De resto é omisso, apenas com uma sutil referência:

 

Decidiu sair pela porta da frente. Ao passar pelo quarto percebeu que a porta estava entreaberta. Olhou com indiferença. Viu um monte de lençóis brancos. Engraçado, não se lembrava de possuir lençóis brancos com aqueles florões vermelhos, grandes como manchas... 

 

Em seguida, lembra-se da pescaria armada, volta ao local e, ensandecido, atira-se no rio, encantado por uma mãe-d’água com o rosto da esposa morta.

O conto pode ser classificado como regionalista, pois a descrição da pesca, os peixes citados e a moradia caracterizam costumes do interior amazônico.
 
(*) Publicado no livro Análise Literária das Obras do Vestibular 2001 (Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 2000, p. 1-20)