Zemaria Pinto*
Informação biográfica
Almir Diniz de Carvalho nasceu no Cambixe, município do Careiro,
Amazonas, a 06 de novembro de 1929. É bacharel em Direito e jornalista, tendo
iniciado carreira na imprensa em
1947.
Entre outros prêmios como jornalista, venceu, em 1956, o Prêmio Esso de
Reportagem Norte-Nordeste, com a matéria “Borracha: dinheiro, sangue e miséria”.
Exerceu diversos cargos públicos, dentre eles o de Prefeito do Careiro.
Dedicado aos afazeres cotidianos, especialmente do jornalismo, somente
aos 67 anos Almir Diniz resolveu abrir sua gaveta de guardados.
Obras publicadas
. Encontros com a natureza (poesia -
1996)
.
Caminhos da alma (poesia - 1996)
.
Corpo de mulher (poesia - 1996)
.
Andanças poéticas (poesia - 1997)
.
O pitoresco e o hilariante na imprensa (crônica - 1997)
.
Os deuses (poesia - 1998)
.
Sob a concha da panacarica (contos - 1999)
Análise da
Obra
Considerações iniciais
Sob a concha da panacarica é um livro de contos, de
histórias curtas que, obedecendo à estrutura do gênero, têm como objetivo a
solução de um só conflito, que é a sua célula dramática.
Assim, lembremos as características essenciais do conto:
. uma única ação principal;
. número mínimo de personagens;
. unidade de tempo;
. unidade de espaço;
. foco narrativo em 1ª ou 3ª pessoa, sobressaindo-se o diálogo.
Além disso, podemos classificá-lo, de acordo com a ação desenvolvida ou o
espaço onde transcorre, em urbano,
regionalista, psicológico, social, dentre outros.
Estrutura narrativa - Resumos
Sob a concha da panacarica é um livro constituído por
dezenove contos, diversos entre si, havendo algumas poucas semelhanças, mas que
nos permitem separá-los em blocos. Assim, de acordo com a estrutura narrativa
que apresentam, os contos foram divididos em quatro blocos: ao primeiro bloco
foram agrupadas as narrativas que possuem um tom rememorativo; ao segundo, as
histórias cujas cenas apresentam-se numa sequência simples, linear, em frente
ao leitor; ao terceiro, os contos que possuem uma declaração inicial, uma
explicação; e ao quarto, um conjunto unitário, uma narrativa cujo foco
apresenta-se em 1ª pessoa.
1 – Contos em tom
rememorativo
Os nove contos relacionados neste primeiro bloco, apresentam alguns
pontos em comum: um resumo de acontecimentos anteriores à ação principal;
diálogos, por vezes, em forma de monólogo interior; foco narrativo em 3ª
pessoa.
Sob a concha da panacarica -
Rosinha é a
jovem esposa do endinheirado Maurício. Entediada, em uma viagem no reboque da
lancha Ituí, lembra um sedutor que conhecera há dois anos, Roberto. A lembrança
apresenta-se como uma preparação para o presente: Roberto aparece novamente,
consuma-se a traição “sob a concha da
panacarica”; Maurício, que preparara a cilada, mata o sedutor; Rosinha sente-se
liberta, pela consumação do ato sexual, do desejo que a sufocara por dois anos,
e, sem saber que o marido é o responsável pelo desaparecimento do
atravessador, terá um casamento feliz,
pois:
De repente sentiu que se livrara da obsessão que se
intercalava entre eles. E descobriu que amava seu dedicado companheiro.
O ambiente, ilustrado pelo meio de transporte fluvial, deixa margem para
classificarmos o conto como regionalista,
uma vez que aborda aspectos típicos, ou seja, usos e costumes de uma região.
A última pesca – Armando sua pescaria,
Eugênio, em plena crise conjugal,
relembra o início do amor pela mulher, Regina. Revigorado pelas
lembranças, que servem como introdução para a ação principal do conto, deixa a
pescaria e volta correndo para casa, na esperança de poder ainda salvar seu
casamento. Perde a razão ao encontrar a mulher com outro, na cama. A morte dos
amantes é anunciada apenas pela referência à faca de cozinha. De resto é
omisso, apenas com uma sutil referência:
Decidiu sair pela porta da frente. Ao passar pelo quarto percebeu que a porta
estava entreaberta. Olhou com indiferença. Viu um monte de lençóis brancos.
Engraçado, não se lembrava de possuir lençóis brancos com aqueles florões
vermelhos, grandes como manchas...
Em seguida, lembra-se da pescaria armada, volta ao local e,
ensandecido, atira-se no rio, encantado por uma mãe-d’água com o rosto da
esposa morta.
O conto pode ser classificado como regionalista,
pois a descrição da pesca, os peixes citados e a moradia caracterizam costumes
do interior amazônico.
(*) Publicado no livro Análise Literária das Obras do Vestibular 2001 (Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 2000, p. 1-20)