Amigos do Fingidor

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sob a concha da panacarica – estudo 3/8


Zemaria Pinto

 

 

2 – Contos apresentados em sequência linear

 

Neste bloco, relacionamos sete narrativas que têm uma estrutura aparentemente simples: são fatos e cenas que vão surgindo em frente ao leitor, linearmente. O foco narrativo é em 3ª pessoa. 

O curandeiro – Epitácio é o rico marido de Júlia. Seu sonho de varão é ter filhos, mas acha que a mulher não é fértil. No entanto, através de exames, constata-se que não é da moça o problema. O marido recusa-se a procurar um médico e reconhecer-se estéril. Assim, recorre a um curandeiro. Este, entretanto, como não poderia deixar de ser, é um charlatão que embriaga as clientes e submete-as sexualmente. Por alguns dias, repete-se o ritual para que Júlia engravide. Esta, bastante desconfiada, acaba descobrindo o que acontece quando, supostamente, dorme durante os encontros. Descobre também que tudo é filmado pelo charlatão, roubando a fita que mostrava seus encontros.  Quando se dispõe a desmascará-lo, já não encontra o curandeiro e sua enfermeira, e os jornais estampam o escândalo.

Epitácio procura um médico, descobrindo seu problema, cujo tratamento é dos mais simples. O casal tem, assim, um final feliz. Júlia ficara grávida dos encontros, mas silencia sobre o ocorrido, para que sua felicidade seja plena.

A lei da selva – Gustavo perde-se na mata. Encontra uma pobre cabana e é acolhido pelo casal Tião e Zefa. À noite, aparecem Chico, um antigo namorado de Zefa que não se conforma em tê-la perdido para Tião, e dois companheiros. Os amigos não esperavam encontrar o casal com visita, e, assim, Gustavo ajuda Tião a livrar-se dos malfeitores. Tião “capa” Chico, legitimando sua ação na “lei da selva”, inclusive sendo “acobertado” pela omissão dos próprios companheiros de Chico.

A narrativa mostra o choque de Gustavo, jovem urbano, com os costumes do homem interiorano; pelas descrições, podemos classificar o conto como regionalista. 

A sonâmbula – Noronha é um regatão solitário. Um grande amigo seu, coronel Saldanha, pede-lhe que transporte uma empregada sua, Glorinha. A moça é sonâmbula e, durante os dias da viagem, mantém encontros sexuais, durante as crises de sonambulismo, com o regatão. Ao final, tendo dado à luz um menino, descobre-se que Glorinha fingia-se de sonâmbula para seduzir Noronha, pois nutria amores por este. Saldanha abençoa o casal, num final feliz.

Outro conto regionalista, sendo bastante ilustrativa a saída do cais, uma constante na vida do homem do interior do Amazonas.

O assobio – Lucinha é perseguida por um assobio que imita o seu nome. É seduzida pelo autor dos assobios, um jovem misterioso, que não se deixa ver integralmente. Descobertos, Lucinha é mandada para outra cidade, para encobrir a gravidez. Não sabe o nome do sedutor, tampouco conhece seu rosto. Ao final, descobrimos que o médico que a ajuda durante o parto é o homem amado, que era obrigado a esconder-se por estar sob suspeita de erro médico. Mais um final feliz.

Por vezes, a narrativa lembra o clássico amor de Psiquê e Eros: a jovem não sabe que o marido é o deus do amor, filho de Afrodite. Seus encontros dão-se à noite, no escuro. Seduzida pelos conselhos invejosos das irmãs, Psiquê trai o amado, iluminando seu belo rosto. Descobre, assim, a identidade e o rosto do marido, mas é condenada, por isso, ao abandono, até que o deus, certo de que a desobediência fora expiada, a toma definitivamente como esposa.

O sonho de Ana Maria – Ana Maria é moça do interior, cansada da monotonia do lugar, almejando sair do isolamento em que vive. Janice é uma amiga que aparentemente vence na cidade grande. A convite desta, viaja para a cidade. Descobre, então, que a amiga está envolvida, na verdade, com prostituição, e, dignamente, repudia um pretendente e volta para sua casa no interior.

Marcos, o pretendente repudiado, na verdade, está disposto a casar-se com a jovem e vai atrás dela, comprando uma fazenda próxima à casa de Ana Maria. Final feliz, o casal é abençoado pelo pai da moça.

O conto trata, assim, de um problema – ainda – existente na vida do interiorano, no choque com a dita cidade grande, podendo, por isso, ser classificado como social.

O sinal – Telma tem um sinal de nascença que a incomoda.

 

Assemelhava-se a um pedaço de fita isolante, de 5 centímetros  de comprimento por dois de largura, aproximadamente. Negro, retinto e peludo. Pêlos também negros, naturalmente.

 

     Seu pai, Cincinato, aceita o convite de um amigo, Alonso, para ficar hospedado em sua casa. Fernando, filho de Alonso, enamora-se de Telma após vê-la em trajes de banho. Fernando corteja a moça e fala que somente casará com uma jovem que tenha sinal de nascença, descrevendo o sinal de Telma, que, na verdade, vira às escondidas.  Final feliz.

“Lua Nova” -  “Lua Nova” é um potro que se torna o xodó da jovem  Silvinha. O noivo de Silvinha, Juvêncio, resolve montar em “Lua Nova”, mesmo sabendo que o cavalo somente aceita ser montado por sua dona. Derrubado, Juvêncio sente-se humilhado e jura vingança. Silvinha casa-se e, por algum tempo, por causa de uma gestação difícil, é obrigada a afastar-se da fazenda e de seu cavalo.

Ao retornar, procura o animal e encontra-o quase morto, graças ao ciúme do marido. Resolve, então, dividir seus cuidados entre o filho e o quadrúpede. Ao final, “Lua Nova” salva Juvêncio, colocando-se entre ele e um touro, sendo atingido mortalmente por este, provando seu amor pela dona.