Zemaria Pinto
2 – Contos apresentados em
sequência linear
Neste bloco, relacionamos sete narrativas que têm uma estrutura
aparentemente simples: são fatos e cenas que vão surgindo em frente ao leitor,
linearmente. O foco narrativo é em 3ª pessoa.
O curandeiro – Epitácio é o rico marido
de Júlia. Seu sonho de varão é ter filhos, mas acha que a mulher não é fértil.
No entanto, através de exames, constata-se que não é da moça o problema. O
marido recusa-se a procurar um médico e reconhecer-se estéril. Assim, recorre a
um curandeiro. Este, entretanto, como não poderia deixar de ser, é um charlatão
que embriaga as clientes e submete-as sexualmente. Por alguns dias, repete-se o
ritual para que Júlia engravide. Esta, bastante desconfiada, acaba descobrindo
o que acontece quando, supostamente, dorme durante os encontros. Descobre
também que tudo é filmado pelo charlatão, roubando a fita que mostrava seus
encontros. Quando se dispõe a
desmascará-lo, já não encontra o curandeiro e sua enfermeira, e os jornais
estampam o escândalo.
Epitácio procura um médico, descobrindo seu problema, cujo tratamento é
dos mais simples. O casal tem, assim, um final feliz. Júlia ficara grávida dos
encontros, mas silencia sobre o ocorrido, para que sua felicidade seja plena.
A lei da selva – Gustavo perde-se na mata.
Encontra uma pobre cabana e é acolhido pelo casal Tião e Zefa. À noite,
aparecem Chico, um antigo namorado de Zefa que não se conforma em tê-la perdido
para Tião, e dois companheiros. Os amigos não esperavam encontrar o casal com
visita, e, assim, Gustavo ajuda Tião a livrar-se dos malfeitores. Tião “capa”
Chico, legitimando sua ação na “lei da selva”, inclusive sendo “acobertado”
pela omissão dos próprios companheiros de Chico.
A narrativa mostra o choque de Gustavo, jovem urbano, com os costumes do
homem interiorano; pelas descrições, podemos classificar o conto como regionalista.
A sonâmbula – Noronha é um regatão
solitário. Um grande amigo seu, coronel Saldanha, pede-lhe que transporte uma
empregada sua, Glorinha. A moça é sonâmbula e, durante os dias da viagem,
mantém encontros sexuais, durante as crises de sonambulismo, com o regatão. Ao
final, tendo dado à luz um menino, descobre-se que Glorinha fingia-se de sonâmbula
para seduzir Noronha, pois nutria amores por este. Saldanha abençoa o casal,
num final feliz.
Outro conto regionalista, sendo
bastante ilustrativa a saída do cais, uma constante na vida do homem do
interior do Amazonas.
O assobio – Lucinha é perseguida por
um assobio que imita o seu nome. É seduzida pelo autor dos assobios, um jovem
misterioso, que não se deixa ver integralmente. Descobertos, Lucinha é mandada
para outra cidade, para encobrir a gravidez. Não sabe o nome do sedutor,
tampouco conhece seu rosto. Ao final, descobrimos que o médico que a ajuda
durante o parto é o homem amado, que era obrigado a esconder-se por estar sob
suspeita de erro médico. Mais um final feliz.
Por vezes, a narrativa lembra o clássico amor de Psiquê e Eros: a jovem
não sabe que o marido é o deus do amor, filho de Afrodite. Seus encontros
dão-se à noite, no escuro. Seduzida pelos conselhos invejosos das irmãs, Psiquê
trai o amado, iluminando seu belo rosto. Descobre, assim, a identidade e o
rosto do marido, mas é condenada, por isso, ao abandono, até que o deus, certo
de que a desobediência fora expiada, a toma definitivamente como esposa.
O sonho de Ana Maria – Ana Maria é moça do
interior, cansada da monotonia do lugar, almejando sair do isolamento em que
vive. Janice é uma amiga que aparentemente vence na cidade grande. A convite
desta, viaja para a cidade. Descobre, então, que a amiga está envolvida, na
verdade, com prostituição, e, dignamente, repudia um pretendente e volta para
sua casa no interior.
Marcos, o pretendente repudiado, na verdade, está disposto a casar-se com
a jovem e vai atrás dela, comprando uma fazenda próxima à casa de Ana Maria.
Final feliz, o casal é abençoado pelo pai da moça.
O conto trata, assim, de um problema – ainda – existente na vida do
interiorano, no choque com a dita cidade grande, podendo, por isso, ser
classificado como social.
O sinal – Telma tem um sinal de
nascença que a incomoda.
Assemelhava-se a um pedaço de fita isolante, de 5
centímetros de comprimento por dois de
largura, aproximadamente. Negro, retinto e peludo. Pêlos também negros,
naturalmente.
Seu pai, Cincinato, aceita o
convite de um amigo, Alonso, para ficar hospedado em sua casa. Fernando, filho
de Alonso, enamora-se de Telma após vê-la em trajes de banho. Fernando corteja
a moça e fala que somente casará com uma jovem que tenha sinal de nascença,
descrevendo o sinal de Telma, que, na verdade, vira às escondidas. Final feliz.
“Lua Nova” - “Lua Nova” é um potro que se torna o xodó da
jovem Silvinha. O noivo de Silvinha,
Juvêncio, resolve montar em “Lua Nova”, mesmo sabendo que o cavalo somente
aceita ser montado por sua dona. Derrubado, Juvêncio sente-se humilhado e jura
vingança. Silvinha casa-se e, por algum tempo, por causa de uma gestação
difícil, é obrigada a afastar-se da fazenda e de seu cavalo.
Ao retornar, procura o animal e encontra-o quase morto, graças ao ciúme
do marido. Resolve, então, dividir seus cuidados entre o filho e o quadrúpede.
Ao final, “Lua Nova” salva Juvêncio, colocando-se entre ele e um touro, sendo
atingido mortalmente por este, provando seu amor pela dona.