João
Bosco Botelho
As forças das resistências ao cristianismo, no
Brasil, em especial, ligadas aos curadores e adivinhos, ocorreram em três
vertentes:
Duas oriundas do período colonial:
-
Indígena: em torno dos pajés;
-
Africana: próxima aos pais e mães de santo.
Outra, muito mais recente, a partir dos anos
1960, possivelmente ligada à estratégia política para enfraquecer a Teologia da
Libertação, associada às ideias marxistas, em claro conflito com a política
norte-americana para a América Latina:
- Brasileira: atada aos pastores
neopentecostais.
Quanto à indígena, o padre salesiano
Alcionílio Bruzzi, depois de conviver durante mais de duas décadas com grupos
indígenas de diferentes etnias, no Alto Rio Negro, é testemunha dessa
resistência, como história de longa duração: "É talvez o maior sacrifício
que a catequese católica impõe aos indígenas cristãos, a renúncia à crença no
poder do pajé. Em alguns casos só o consegue parcialmente".
Nos quase quinhentos anos, no Brasil, nos
quais a Igreja combate sistematicamente os curadores e adivinhos sem compreendê‑los
como agentes de coesão social, não está conseguindo processar a linguagem
sedutora capaz de satisfazer os atuais desejos nascidos nas contradições político-econômicas
mais atuais.
Essa dissociação entre a hierarquia
eclesiástica e a concepção do sagrado das massas populares, em parte
responsável pelo esvaziamento das paróquias e a diminuição gradativa da
confissão da fé católica está clara no discurso disciplinador do Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio de Araújo Sales, nos anos 1990, um dos
mais ilustres representantes do clero: "...os assuntos abordados foram os
desvios graves da piedade popular, desde as práticas da macumba, candomblé,
umbanda, até o espiritismo e outros do tipo pentecostal. Está incluído também o
recurso à superstição e à exposição incompleta da Doutrina genuína."
Do outro lado, as igrejas neopentecostais divulgam
mensagens mais sedutoras promovendo as sessões de curas e catarses ao som dos
cânticos de louvor entoados por milhares de fiéis. Com essa estratégia,
penetram com maior facilidade na vontade popular e ocupam os espaços sociopolíticos
nascidos do desencanto, da insatisfação e da miséria.
Os curandeiros e adivinhos, especialmente os
atuais neopentecostais, continuam agentes de coesão social ao aperfeiçoarem o
trato com o sagrado objetivando o poder político.
Talvez tardiamente, a Igreja percebeu a
necessidade de mudança e introduziu programas televisados, salvo exceções,
monótonos e com pouco movimento, dirigidos por padres e freiras engessados, sem
a dinâmica requerida pelo processo social que demanda mudanças rápidas, na
tentativa de ocupar espaços para enfrentar a agressiva presença das muitas igrejas
neopentecostais que prometem, seguidamente, melhoria da vida aqui e agora.
Sem análise de juízo de valor, o resultado
tem sido desfavorável à Igreja católica. Os curadores e adivinhos das muitas
igrejas neopentecostais atraem, continuamente, milhares de fiéis que doam além
do dízimo, que efetivamente ajudam na construção de novas estruturas de poderes
inseridos em várias estruturas sociais.