Zemaria Pinto
Mariá
Mariá era
desproporcional. Dos saltos altos – ela andava sempre de shortinho – ao cabelo
que lhe encobria as costas, Mariá era uma lânguida desproporção. No recôndito
dos quintais sem cercas, dos becos sem iluminação e até mesmo de uma frágil
ponte de madeira sobre um igarapé imundo, perdi-me nas desproporções de Mariá.
A pele escura, os seios fartos, os lábios grossos, a língua ávida, as mãos
sábias, o cheiro de suor e de sexo – Mariá era um acontecimento. Lembro como
tudo começou, mas não lembro o fim. Houve um fim ou Mariá poderá chegar a
qualquer momento por aquela porta e me puxar e me esmagar contra a parede, me
lambendo, me apertando, me mordendo, e me falando palavras desconexas, apenas para
que eu sinta seu hálito quente, e gema de prazer e de dor?