Amigos do Fingidor

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Lábios que beijei 12



Zemaria Pinto
Mariá


Mariá era desproporcional. Dos saltos altos – ela andava sempre de shortinho – ao cabelo que lhe encobria as costas, Mariá era uma lânguida desproporção. No recôndito dos quintais sem cercas, dos becos sem iluminação e até mesmo de uma frágil ponte de madeira sobre um igarapé imundo, perdi-me nas desproporções de Mariá. A pele escura, os seios fartos, os lábios grossos, a língua ávida, as mãos sábias, o cheiro de suor e de sexo – Mariá era um acontecimento. Lembro como tudo começou, mas não lembro o fim. Houve um fim ou Mariá poderá chegar a qualquer momento por aquela porta e me puxar e me esmagar contra a parede, me lambendo, me apertando, me mordendo, e me falando palavras desconexas, apenas para que eu sinta seu hálito quente, e gema de prazer e de dor?