Amigos do Fingidor

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Interpretações e impressões



                                                                                                 Tainá Vieira


Outro dia, na rede social chamada Facebook, houve uma quantidade imensa de “compartilhamentos, comentários e curtições” sobre uma fotografia cuja cena é a seguinte. Há dois meninos a caminho ou voltando da escola. Está chovendo e esses meninos protegem-se da chuva com uma folha de bananeira. Para noventa e nove por cento das pessoas que viram a foto, a cena é exatamente essa. E tudo falado a respeito da fotografia era que os meninos eram pobres coitadinhos do mundo. Eu logo que vi, não tive dúvidas. Fiz o meu comentário, eu ousaria dizer, minha análise!

Há dois meninos a caminho ou voltando da escola. E de repente começou a chover e como esses meninos estão sem guarda-chuva, eles pegaram uma folha de bananeira para tentar se proteger da chuva. Esses meninos têm traços orientais ou asiáticos, não sei ao certo. Devem ser irmãos, senão primos ou simplesmente amigos de escola. Na fotografia é possível ver que eles estão com uniformes e de sapatos. Vale frisar que há por aí há muitos meninos que não têm nem uniformes muito menos sapatos para irem a escola. Os meninos também levam cada um a sua mochila, e esta por sua vez, como dá para perceber o peso nas costas dos meninos, deve estar cheia de livros e cadernos. Como podem ser pobres coitadinhos do mundo se esses meninos têm as “armas” que todo ser humano precisa para sobreviver?  

No caminho da escola deve ter bananeiras, logo deve haver bananas e se por um acaso não tiver merenda na escola, pelo menos tem bananas no caminho e assim esses meninos não sentirão tanta fome e logo não desistirão de continuar estudando. Um ponto positivo para as bananeiras. É possível ver um sorriso em um dos meninos, como se fosse gostoso tomar banho de chuva, talvez, esse menino entenda que tomar banho de chuva é como se estivesse lavando à alma e purificando o corpo. Talvez não seja muito comum chover no lugar onde esses meninos moram e quando chove a chuva é recebida com uma benção de Deus. Por isso tal felicidade no sorriso do menino. Um ponto positivo para a chuva. É possível ver o mato verde e leve, uma espécie de capim, bem verdinho, como se fosse pastagem para bovinos ou, quem sabe, outro tipo que plantação que desconheço. Não há como não perceber o chão da estrada, é possível imaginar um lugar calmo e tranquilo, onde a paz reine. Um ponto positivo para esse solo, o lugar desses meninos.  E um ponto positivo para quem registrou esse momento, talvez essa pessoa, como noventa e nove por cento das que viram, julgam tal cena, como pessoas excluídas do mundo ou vitimadas pela vida.  Ou quem sabe essa pessoa registrou tal momento por pensar da mesma forma que pensei. Ou simplesmente porque achou a cena bonita. Como eu achei.

Enfim, não podemos julgar sem conhecer ou pelo menos tentar entender algo. A vida só é cruel para quem quer que ela seja cruel. Cada um constrói a sua história e faz o seu próprio caminho, ainda que chova, mas se tiver uma folha de bananeira, valerá a pena continuar caminhando, afinal tudo passa! Até uma leve ou forte chuva! No entanto é válido dar mais um pouco de atenção aos meninos, os personagens principais da fotografia, eles não se importam com a chuva ou caminho longínquo da escola, eles têm um ao outro, têm a amizade e a força de vontade como forma de sobrevivência, devem confiar um no outro. Como disse o poeta Thiago de Mello, no Artigo 5, dos Estatutos do Homem, O homem confiará no homem, como um menino confia em outro menino. É dessa forma que eu vejo essa fotografia.