Amigos do Fingidor

terça-feira, 8 de setembro de 2015

A mulher que virava trouxa



Pedro Lucas Lindoso

Lendas urbanas são histórias de caráter fabuloso e geralmente divulgadas de forma oral.  O termo “lenda urbana” foi usado pioneiramente por Jan Harold Brunvand, professor de Inglês da Universidade de Utah.
Brunvand escreveu sobre lendas urbanas americanas e seus significados. A ideia do professor era chamar atenção para o fato de que as lendas e folclores não acontecem exclusivamente nas chamadas sociedades primitivas ou tradicionais. E ainda, pode-se aprender bastante sobre a cultura moderna e urbana ao estudar tais lendas.
A nossa querida cidade de Manaus é cheia delas.
Domingo passado fui ao Bairro da Compensa pegar uma encomenda de costura.  Dona Auxiliadora, a costureira, ralhava com uma moça que jurava não ter furtado determinada calça.
Dona Auxiliadora relatava que quando jovem, uma moça jurou para a mãe dela que não tinha praticado um furto. A moça teria respondido:
– Se fui eu quero que a maior fera do mundo me pegue.
Um enorme jacaré, saído do Igarapé de Educandos, teria abocanhado a tal moça. A fera passeou com a garota por todo o bairro. Arrastando-a pela boca. Uma outra, matou a irmã, chamada Neca. Negou o fato e fez a mesma jura. Foi devorada pela fera ao lavar roupa no Igarapé. Esclareceu-se assim o homicídio, segundo a vizinhança.
Disse a dona Auxiliadora que já tinha escutado essa história. Ela me afiançou ser verdade. Contou-nos ainda da fogueteira. Também moradora de Educandos, a moça fogueteira teve o desplante de bater na sua mãe. Virou porco. Teve esse nome porque, antes de virar porco, furtava, desobedecia e batia na mãe. E pegava fogo. Virou a fogueteira de Educandos.
A cabocla já estava bastante assustada com as histórias e os relatos da dona Auxiliadora.  Por fim contou-nos a lenda da mulher que virava trouxa, de roupa, claro. Rolava pelas ruas e ladeiras do bairro, assustando todo mundo. Sempre depois da meia-noite
A mocinha saiu apavorada. Retornou com a tal calça, desculpando-se com a costureira. Pegou a calça por engano, explicava-se. Não iria ser comida por fera nenhuma. Muito menos correr o risco de pegar fogo ou transformar-se em porco. Menos ainda virar trouxa e sair rolando pelas ruas do bairro, assustando as pessoas.