Amigos do Fingidor

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Marcileudo Barros (16/02/1951 – 17/09/2015)


Autor de O Boteco, Meninas, Esquinas, Sobre o amor e suas nuances
entre outros títulos, Marcileudo Barros foi um escritor à margem – agora, ele chega à terceira margem.

Mundo cão! E eu nele
Maldição! E eu nele.
Mil traças pra me consumir.
Mil garras pra me destruir.
Tento o avanço, canso.
Mil barreiras, mil desvios,
mil abismos pra cair...

Meninas
(fragmento)

 A menina pediu;
a mãe resistiu.
A menina insistiu;
a mãe permitiu.
A menina saiu
com promessas mil
de não chegar tarde demais.

A mãe ficou sozinha, mas
uma ponta de inveja da
menina dela e a saudade
dela menina foram atrás.


                                                                                                                      Esquinas 
(fragmento)


Pra quem se acha
Rei ou Rainha
e não vê mais ninguém,
na esquina tem um Rei
e uma Rainha também.
Tem palhaço, trapezista,
homem de aço, equilibrista.
Tem também ilusionista
que pode se transformar
em qualquer tipo da lista.
Pra quem se acha
Rei ou Rainha
e não vê mais ninguém,
a esquina tem surpresas
e sofrimentos também.

O beijo

O beijo não abre
toda válvula de escape
do desejo.
Até porque ele é o começo.
E quando ele é o fecho,
a apoteose,
ou não temos o desejo
ou temos o gozo precoce.
  
Caindo a ficha

Vendo revista feminina
Cheia de mulheres nuas
Bumbuns maravilhosos
Xiri em feitio de lua
Foi que eu vi quanta bosta
Tenho comido pela rua.
  

Catarse

Creio que algumas pessoas
Vêem nos poemas pornográficos
Uma espécie de gráficos
De suas incompetências
E se tornam críticos ácidos
Taxando-os de indecência.
E se perdem da ludicidade
Em cada experiência.

  
Invenção

Tem mulher que a boca é dez
Os peitos pontos abaixo
A bunda menos ainda
O xiri um esculacho.
Você goza no boquete
Ai inventa um diabete
Pra não enfiar no tacho.

No Sense

Tem casal enciumado
E faz sentido.
O neguinho é sarado
Neguinha só peito e priquito.
Um bumbum arredondado
Um rosto bonito.
Mas tem casal que, puta merda
Ciúme de cu pra cu
Só um comeria o outro
Famoso casal “only you”.
  

Desprovida

Tem mulher que mais parece
Uma carta em desmazelo
Um buraco e um corte
Arrodeado de pelo.
Os peitos é que lembram a carta
Pois mais parecem dois selos.
  
Desgaste

Se xiri gastasse dedo
Feito pedra de esmeril
Eu não teria mais que três
Por mais que tivesse mil.

(Poemas de Marcileudo Barros)