Amigos do Fingidor

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Objetos de desejos



Pedro Lucas Lindoso

Há pessoas que são viciadas em consumir, comprar coisas. Até mesmo coisas que não precisam.
A querida tia Idalina soube que Imelda Marcos havia deixado cerca de mil e duzentos pares de sapatos para trás. Isso lá pelos anos oitenta do século passado. O fato ocorreu quando Imelda e o ditador Ferdinand Marcos foram expulsos das Filipinas. Titia correu para ver quantos pares havia em seu closet. Chocada, contou vinte e oito pares. De imediato, livrou-se de oito. Um tanto quanto contrariada, pois como Imelda Marcos, adora um sapato.  Mas foi uma questão de consciência, explicou-me.
Em viagens, somos todos levados a comprar. Há gente que viaja tão somente para fazer compras e não são comerciantes. Normalmente, somos atraídos por coisas que não existem em nossas cidades.
Tina, sobrinha de Idalina, comprou um enorme cocar do Caprichoso, no último festival de Parintins. No avião, a aeromoça pediu que colocasse o cocar no bagageiro, por medida de segurança. Tina se recusou. As lindas penas de cor azul seriam amassadas e estragadas. A solução foi usá-lo durante a viagem até o Rio de Janeiro. A moça causou espanto e admiração entre os passageiros.
Meu colega e amigo Chaguinhas esteve em Cancun, no México. Viu um enorme sombrero. A mulher dele foi logo avisando:
– Isso não cabe na mala. Não conte comigo para levar na mão.
Chaguinhas não resistiu. Desde que assistiu na sua juventude, filmes western, Zorro e outros filmes americanos do gênero, quis ter um sombrero.
Os sombreros têm normalmente um cone comprido e largas abas, usadas para a proteção contra o sol escaldante do México. O sombrero do Chaguinhas tinha um cone consideravelmente comprido e abas muito, mas muito largas mesmo.
Do México até Manaus, incluindo uma conexão na Cidade do Panamá, o sombrero só foi motivo de discórdia. De fato não coube na mala e ninguém queria ser responsável por carregar o tal enorme sombrero ao avião. Alojá-lo no bagageiro da aeronave foi bem complicado.
Em Manaus, a polêmica continuou. Não havia lugar para o tal majestoso sombrero nem na sala, nem no quarto de ninguém, nem no escritório do Chaguinhas. Chaguinhas havia pagado trinta dólares pelo sombrero. Conseguiu vendê-lo por cem reais num site da internet.
Sapatos, cocar indígena, sombreros e outros tantos, são objetos de desejos de muitas pessoas. Mas transportá-los pode ser um problema.