João Bosco Botelho
As práticas
médicas hebraicas na antiguidade tinham normas bem definidas e voltadas à profilaxia
das doenças. Os livros sagrados continham leis rígidas que organizavam os
direitos e deveres dos médicos e doentes.
O conjunto normativo do monoteísmo judaico foi
elaborado em tempos diversos e seguido com obediência nos séculos seguintes.
Parece justo entender que essa fidelidade, que também incluía as normas de
higiene e alimentação, contribuiu na sobrevivência sadia desse povo.
Os hebreus, como
outras culturas escravistas que floresceram nas margens dos rios Tigre,
Eufrates, Nilo e Indo, atribuíram às divindades protetoras e vingadoras,
respectivamente, poderes de curar as doenças e provocar a morte de pessoas e
animais domesticados.
Parte
da construção social do povo Hebreu está presente no Antigo Testamento (AT). Segundo
o livro do Gênesis, Taré, membro de uma tribo semita, grupo étnico descendente
de Sem (filho de Noé), acompanhado de sua família, abandonou a cidade de Ur, na
Mesopotâmia, e caminhou em direção ao Sul, pelas margens do Eufrates. Com a
morte de Taré, a liderança dessa tribo nômade ficou com Abraão, que, sob
inspiração divina, dirigiu o seu povo até Canaã, a terra prometida. A ocupação
desse território, posteriormente chamado Israel pelos hebreus, foi organizada
por Jacó.
Sob a liderança de Moisés, entre 1270 a
1220 a.C., os hebreus iniciaram a partida do Egito. Após a morte desse patriarca,
sob a liderança de Josué, chegaram à Palestina e, pouco depois, conquistaram
parte de Canaã. Nessa época, o povo hebreu estava dividido em doze tribos que
mantinham entre si laços sociais nem sempre harmoniosos.
A
partir de uma inscrição do século 9 a. C., os especialistas acreditam que os
hebreus utilizavam o alfabeto semelhante ao fenício arcaico. Contudo,
desde que o aramaico chegou à Pérsia, os israelitas adotaram-no, culminando com
o atual hebreu.
Quando o império babilônico foi
derrotado por Ciro, rei dos persas, os hebreus foram libertados e voltaram à
região da antiga Jerusalém. Com a plena liberdade de povo livre, novamente,
ergueram o templo.
Desde então, sustentando lutas
permanentes com diversos povos da região, em 63 a. C., sucumbiu ao poderio
romano.
Nos primeiros anos da dominação, não
houve interferência nos ritos das crenças religiosas dos judeus. Mas, no ano
70, com a impostura divina do Imperador, como lei, e a recusa de os judeus, o
poder romano ordenou a destruição de Jerusalém. Como consequência, o povo se
dispersou no mundo.
No monte Sinai, Moisés recebeu de Deus
as tábuas com os Dez Mandamentos, provavelmente, correspondentes ao núcleo mais
antigo da Torá. As permissões e proibições contidas nesse extraordinário
instrumento religioso de organização social devem ter sido estruturadas em
torno do conhecimento historicamente acumulado.
Os hebreus dos períodos bíblicos como os
outros povos escravistas acreditavam a doença como castigo divino e o sinal de
pecado. Dessa forma, representando a impureza, os enfermos eram isolados da
comunidade e, pelo menos em certas doenças infecciosas era possível diminuir a
contaminação.
Como fruto do longo cativeiro, é certa a
influência exercida pelos mesopotâmicos sobre os judeus em muitos aspectos
sociais. É interessante assinalar que dedicar o sábado ao descanso, como
preconizam, hoje em dia, os judeus, é igual às restrições assírias a todo tipo
de atividade, durante o sétimo dia da semana, no qual o Rei também não tratava
dos assuntos oficiais e os médicos não medicavam os doentes.