Amigos do Fingidor

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Sensualidade e delicadeza: os labirintos de Óscar Ramos


Zemaria Pinto

Poemas Visuais: Maya. Neste, o texto; naquele, que é este, o tátil – o quadro, a parede, a sala – sob o olho que transforma.
O texto entrando pelo olho, como num filme de Snow, com a lentidão de um filme de Snow: você se transforma no lugar em que algo aconteceu.
Óscar Ramos, em algum lugar do mundo, sempre. Labirintos.
Nos jardins de Citera ou às margens do Andirá ou ainda num quintal de Itacoatiara, nunca imaginei que as pessoas pudessem ser tão nuas.
Palavras e imagens que se fundem em sensualidade e delicadeza – seja diante de uma nuca raspada, seja à entrada sombria da caverna-labirinto, que mesmo prometendo luz em seu interior acende a dúvida e o horror:
– E se for a luz de Hopper, o labirinto urbano deserto melancólico com suas sombras diagonais e seus rostos imprecisos?
Poemas visuais, poemas concretos.
A tipologia fluida e translúcida de Max Bill dando vida às palavras concretas – da adormecidade ao chãodejambo, passando pela cicatristeza – em que a palavra nova reveste-se de pedra e significados antes indizíveis (a dor dorme na cidade adormecida – é cica a tristeza da atriz) ou é apenas um quadro plástico que se desenha no olharmente do leitor, cujos olhos não se reduzem a divisar.
Ainda que separadas pelo Atlântico, Itacoatiara limita-se com a Caverna de Altamira, dilacerado coração cigano. A pedra pintada, o altar de pedra – a fenda e a funda: lembrança primordial.
Destination, ápice mental dessa montanha: o futuro em labirinto, metáfora definitiva para o outsider, porta de entressaída para o tudonada, o sem-fim, o descomeço.
Óscar Ramos, construindo artefatos e engenhando metamorfoses ao contato dos olhosoutros – sempre.

 Obs: texto de apresentação da 
exposição Poemas Visuais, de Óscar Ramos.