Zemaria Pinto
Poemas Visuais: Maya. Neste, o texto;
naquele, que é este, o tátil – o quadro, a parede, a sala – sob o olho que
transforma.
O texto entrando pelo olho, como num
filme de Snow, com a lentidão de um filme de Snow: você se transforma no lugar em que algo aconteceu.
Óscar Ramos, em algum lugar do mundo,
sempre. Labirintos.
Nos jardins de Citera ou às margens do
Andirá ou ainda num quintal de Itacoatiara, nunca
imaginei que as pessoas pudessem ser tão nuas.
Palavras e imagens que se fundem em
sensualidade e delicadeza – seja diante de uma nuca raspada, seja à entrada
sombria da caverna-labirinto, que mesmo prometendo luz em seu interior acende a
dúvida e o horror:
– E se for a luz de Hopper, o labirinto
urbano deserto melancólico com suas sombras diagonais e seus rostos imprecisos?
Poemas visuais, poemas concretos.
A tipologia fluida e translúcida de Max
Bill dando vida às palavras concretas – da adormecidade ao chãodejambo, passando
pela cicatristeza – em que a palavra nova reveste-se de pedra e significados
antes indizíveis (a dor dorme na cidade adormecida – é cica a tristeza da atriz)
ou é apenas um quadro plástico que se desenha no olharmente do leitor, cujos
olhos não se reduzem a divisar.
Ainda que separadas pelo Atlântico,
Itacoatiara limita-se com a Caverna de Altamira, dilacerado coração cigano. A
pedra pintada, o altar de pedra – a fenda e a funda: lembrança primordial.
Destination,
ápice mental dessa montanha: o futuro em labirinto, metáfora definitiva para o outsider, porta de entressaída para o tudonada,
o sem-fim, o descomeço.
Óscar Ramos, construindo artefatos e
engenhando metamorfoses ao contato dos olhosoutros – sempre.
Obs: texto de apresentação da
exposição Poemas Visuais, de Óscar Ramos.