Pedro Lucas Lindoso
Os cearenses estão espalhados
pelo mundo. Meu saudoso pai, quando senador pelo Amazonas na década de setenta,
foi designado para uma Reunião Interparlamentar no Japão. Ele nos contou que
foi servido por um garçom cearense no restaurante do hotel em Tóquio. O
cearense estava de quimono e tudo!
Desde sempre, os cearenses migram
para o mundo e também para o Amazonas. Nossa cultura, nosso falar e muitas de
nossas relações familiares estão ligados ao Ceará. Nos feriados e nas férias
sempre se encontrará um conhecido de Manaus nas praias de Fortaleza.
Roncalli Barreto, um jovem e brilhante colega
advogado cearense, foi transferido para Manaus. Roncalli é a mais recente contribuição
do Ceará para a cultura jurídica do Amazonas.
No mês de março, dia 19 mais
precisamente, se celebra São José, que é padroeiro do Ceará. Tanto quanto os
cearenses o santo tem enorme devoção entre os católicos daqui. Normalmente, o Equinócio de Outono no
Hemisfério Sul ocorre na época das festividades de São José, por volta de 20 ou
21 de março.
Meu amigo Chaguinhas, filho e
neto de cearenses, me contou uma hilariante história envolvendo São José e um
tio dele prefeito do interior do Ceará. A seca estava terrível naquele ano. Dizem
que é preciso que chova até o dia do santo. Caso contrário, a seca vai ser
braba. Aqui chove sempre nessa época. Mas não no sertão do Ceará. A crença
popular indica que, se chover no sertão até o dia de São José, o ano será de
bom “inverno”, com chuva garantindo a safra e a mesa farta. A fé no santo
padroeiro se soma à esperança do agricultor, do vaqueiro, do homem do sertão.
Já se aproximava da festa de
São José e nada de chuva na cidade do tio do Chaguinhas. O prefeito resolve se
adiantar e ligar para o governador. Antecipava-se na choradeira aos recursos
federais e estaduais destinados à seca.
O
governador, muito solícito, tranquilizou o prefeito. Que não se preocupasse. A
chuva chegaria até o dia de São José. Logo chegaria também o Equinócio e tudo
ia ficar bem.
No dia do santo a procissão
saiu debaixo de chuva e o povo estava feliz. Por volta do dia 30 de março o
prefeito liga novamente para o governador:
– Excelência, de fato choveu
um pouco no dia de São José. Mas o tal do Equinócio não apareceu por aqui até
hoje. Ele chega quando?