Amigos do Fingidor

terça-feira, 28 de março de 2017

São José e o Equinócio de Outono


Pedro Lucas Lindoso


Os cearenses estão espalhados pelo mundo. Meu saudoso pai, quando senador pelo Amazonas na década de setenta, foi designado para uma Reunião Interparlamentar no Japão. Ele nos contou que foi servido por um garçom cearense no restaurante do hotel em Tóquio. O cearense estava de quimono e tudo!
Desde sempre, os cearenses migram para o mundo e também para o Amazonas. Nossa cultura, nosso falar e muitas de nossas relações familiares estão ligados ao Ceará. Nos feriados e nas férias sempre se encontrará um conhecido de Manaus nas praias de Fortaleza.
 Roncalli Barreto, um jovem e brilhante colega advogado cearense, foi transferido para Manaus. Roncalli é a mais recente contribuição do Ceará para a cultura jurídica do Amazonas.
No mês de março, dia 19 mais precisamente, se celebra São José, que é padroeiro do Ceará. Tanto quanto os cearenses o santo tem enorme devoção entre os católicos daqui.  Normalmente, o Equinócio de Outono no Hemisfério Sul ocorre na época das festividades de São José, por volta de 20 ou 21 de março.
Meu amigo Chaguinhas, filho e neto de cearenses, me contou uma hilariante história envolvendo São José e um tio dele prefeito do interior do Ceará. A seca estava terrível naquele ano. Dizem que é preciso que chova até o dia do santo. Caso contrário, a seca vai ser braba. Aqui chove sempre nessa época. Mas não no sertão do Ceará. A crença popular indica que, se chover no sertão até o dia de São José, o ano será de bom “inverno”, com chuva garantindo a safra e a mesa farta. A fé no santo padroeiro se soma à esperança do agricultor, do vaqueiro, do homem do sertão.
Já se aproximava da festa de São José e nada de chuva na cidade do tio do Chaguinhas. O prefeito resolve se adiantar e ligar para o governador. Antecipava-se na choradeira aos recursos federais e estaduais destinados à seca.
O governador, muito solícito, tranquilizou o prefeito. Que não se preocupasse. A chuva chegaria até o dia de São José. Logo chegaria também o Equinócio e tudo ia ficar bem.
No dia do santo a procissão saiu debaixo de chuva e o povo estava feliz. Por volta do dia 30 de março o prefeito liga novamente para o governador: 
– Excelência, de fato choveu um pouco no dia de São José. Mas o tal do Equinócio não apareceu por aqui até hoje. Ele chega quando?