Marco Adolfs
Navegar é preciso, viver não é preciso, escreveu o poeta Fernando Pessoa em um momento de inspiração. Mas quando a van contratada para nos pegar no hotel chegou, ainda na madrugada cuzqueña, navegar foi uma necessidade, mas viver, mais ainda, já que precisávamos navegar por entre precipícios quilométricos com os quatro pneus do veículo a poucos centímetros de um escorregão fatal, e ainda viver para ver as belezas perdidas de Machu Pichu.Diversos turistas de várias nacionalidades nos acompanhavam nessa aventura, que em seus quilômetros finais ainda tinha o tal trem da morte para enfrentar. Apesar do perigo latente, o visual compensava. Subimos montanhas, descemos montanhas e chegamos ao pequeno povoado de Urubamba. Não demoramos muito, só o tempo para algumas fotos a mais e a compra de choclos, milhos cozidos de grãos avantajados. Depois a van se equilibrou um pouco mais e nos levou até Ollantaytambo.
Lá pelas tantas – quando já estávamos chegando à Hidrelétrica, lugar onde pegaríamos o trem para a localidade de Águas Calientes, nossa base para atingir Machu Pichu –, o tempo começou a fechar. Nuvens ameaçadoras circulavam nos picos andinos como flocos de algodão. Foi quando uma chuva começou a castigar a nossa paciência. Fios d’água desciam pelas encostas das altas montanhas, tornando escorregadio e temeroso cada trecho percorrido em equilíbrio. Como eu estava munido de uma filmadora com lente Leika supersensível, minha preocupação era que ela não molhasse. Mas, para relaxar, comecei a pensar na história de Machu Pichu e na música de Caetano Veloso O Trem das Cores, já que crianças cor de romã e nuvens oliva-chumbo circulavam ao redor. Foi quando finalmente chegamos à cidade-base de nossa expedição.
Agora pensem em um trem antigo, cortando uma vegetação espessa, de transição entre os Andes e a Amazônia; depois vejam centenas de pessoas saindo desses vagões, todos carregados de mochilas e grossos casacos de proteção, a caminharem por entre trilhos escorregadios e gotículas de chuva em busca de suas hospedagens provisórias. E sintam ao redor cumes altos e fantasmagóricos, envolvidos por nuvens que parecem eternas. Atrás de uma delas, escondida e esperando a nossa invasão, estava Machu Pichu.
Entramos em nosso hotel e fomos direto para os apartamentos. Nosso guia nos orientando, quase aos berros, sobre o jantar de logo mais e sobre as orientações que daria sobre o esquema da manhã seguinte. O dia em que veríamos Machu Pichu.
Durante o jantar, em uma grande mesa disposta, havia uma organização natural de representantes de nações reunidas em busca de aventura e peregrinação.
Cidade de Urubamba - As nuvens sempre presentes.
(Continua na próxima semana...)
Fotos: Marco Adolfs