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Tenho observado o turismo em geral. Tem gente para todo tipo de situação. Existem aqueles que vão a praias paradisíacas, se trancam em hotéis all incluse e ficam olhando o mar, achando que estão conhecendo o mundo; outros que apenas querem comprar bugigangas, principalmente de Miami; e aqueles, a maioria, que são levados pelas cidades, com suas atrações programadas, como um bando de reses tocadas por um peão-boiadeiro. Confesso que já fiz e participei um pouco disso tudo. Mas sempre com o espírito alerta para observar os prós e os contras.
Hoje, garanto, a melhor maneira de se viajar pelo mundo é de forma independente, se perdendo por ruelas obscuras em dias nublados ou perdendo-se em devaneios de noites cavernosas, quando nem a lua ousa aparecer no céu. Digo isso a nós todos que já assistimos muitos filmes, lemos muitos livros e acessamos constantemente a Internet. Pois reencontrar os locais e lugares por onde os “nossos heróis e personagens” viveram ou passaram, torna-se o real prazer para uma viagem de turismo.
Confesso que agora gosto de viajar assim: em busca do tempo perdido de nossas visões especializadas, solto como uma criança a apreender o mundo.
Recentemente eu e Dora estivemos no Peru, em Paris e Lisboa. No Peru, nos perdemos pelas ruelas de Cuzco e, conversando com populares, descobri que o Império Inca ainda existe, só que está atolado na lama da sobrevivência pura e simples ou perdido no coração enevoado desses habitantes dos Andes. Em Paris, visitei os lugares das minhas leituras e conhecimentos, em uma verdadeira “busca do tempo lido”. Entre outras situações, destaco ter ido à livraria Shakespeare and Company – na Rue de La Bucherie, 37 –, ícone de todos os leitores e escritores do mundo; e ao lugar onde viveu Gertrude Stein – na Rue de Fleurus, 27 –, escritora e divulgadora de artistas, no comecinho do século passado.
Em Lisboa, assistimos à ópera Agripina, em um lance do acaso, já que estávamos perdidos em suas ruelas. Tudo isso, antes de irmos comer um saboroso bacalhau no restaurante A Licorista, no Arco do Sapateiro, no Rossio; onde Fernando Pessoa costumava sempre parar para tomar um trago antes de subir para sua residência e escrever madrugada adentro.
Fotos: tem sempre alguém por perto pra tirar.